- Gênero: Documentário
- Direção: Maria Augusta Ramos
- Roteiro: Maria Augusta Ramos
- Duração: 100 minutos
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Depois de voltar suas lentes ao sistema judiciário nacional e à segurança pública, com sua trilogia da Lei e Justiça (composta pelos longas-metragens Justiça, Juízo e Morro dos Prazeres), e para a realidade nacional em suas distantes classes sociais, com Futuro Junho, Maria Augusta Ramos entra dentro da casa de máquinas para mostrar os bastidores do processo de impeachment da ex-presidente eleita Dilma Rousseff, afastada do cargo em um claro golpe legislativo, por um crime que só existiu para condená-la.
Para direcionar sua história, a diretora volta-se a duas personagens femininas centrais: a senadora Gleisi Hoffman e a advogada Janaína Paschoal, embora encontre espaço para que coadjuvantes, como o então advogado de Dilma, José Eduardo Cardoso, e o senador Lindeberg Farias, tenham algum destaque. Depois de relembrar a votação que possibilitou a abertura do processo de impeachment, seu foco é a defesa da ex-presidente.
É evidente que o documentário assume um lado da história, e é duro e perturbador reviver todo processo, revendo pronunciamentos, depoimentos e relembrando eventos que comprovam a prevalência de uma política doente e baseada em conluios, conchavos e mentiras de homens que permanecem em seus cargos como se nada tivessem feito e, pior, voltarão a cada nova eleição, com raras exceções, para comprovar a regra.
Sem se afastar de seu método documental tradicional, o observacional, Maria Augusta Ramos, se posiciona tanto pela escolha daqueles que são mostrados na tela, dedicando-se ao tempo de cena e à escolha de eventos em que estão envolvidos, quanto pelas cartelas de texto que se atêm a informações muitas vezes esquecidas pela mídia durante o processo.
O posicionamento não é algo inédito na filmografia da documentarista, mas há um descontrole em O Processo que chama a atenção. Parece que, embora seja algo compreensível, dada a circunstância, a raiva e a indignação por muitas vezes passam à frente da intenção documental. O que se vê é, por vezes, o contrário exato da narrativa divulgada pela grande mídia, em edições também guiadas pelo ódio ou construídas para causar o ódio em quem a assistia. É como se o filme representasse o outro pólo, em um discurso sem meio termos de um país claramente dividido.
É fundamental que exista essa contra-narrativa, essa exposição de um outro lado, que foi silenciado, mas é incômodo o fato de que se siga a mesma cartilha para enaltecer ou ridicularizar algumas personagens, assim como o recorrer a manipulações na construção do discurso. Em meio a uma polarização, é difícil afastar-se de tudo e esquecer-se de suas convicções político-ideológicas para, à distância, observar esse uso de um método que condena.
Porém, por mais que se questione o método e a forma, não há como negar a realidade daquilo a que se assiste, não há como fugir do fato de que um circo foi armado por políticos com interesses escusos e um falso processo foi encenado para validar um golpe institucional. O documentário retrata essa versão esculhambada e real da obra de Kafka que inspirou seu título, e encontrou em Dilma seu Joseph K.
Em meio ao retrocesso em que o país se encontra, às vésperas das eleições gerais, o difícil é seguir, porque a esperança já morreu há algum tempo. O Processo reafirma isso.
Um Grande Momento
A primeira aparição de Dilma.