Crítica | FestivalMostra SP

O Que Arde

(O que arde, ESP, FRA, LUX, 2019)

  • Gênero: Drama
  • Direção: Oliver Laxe
  • Roteiro: Santiago Fillol, Oliver Laxe
  • Elenco: Benedicta Sánchez, Amador Arias, Elena Mar Fernández, Inazio Abrao, Ivan Yañez, Luis Manuel Guerrero Sánchez, David de Peso, Nuria Sotelo, Alvaro de Bazal, Nando Vázquez, Rubén Gómez Coelho
  • Duração: 90 minutos
  • Nota:

Há uma associação direta entre o desmatamento e as queimadas. Quem mora no Brasil já está bastante familiarizado com isso, principalmente nos últimos tempos, quando uma política contrária a qualquer interesse de preservação do meio ambiente passou a imperar no país e viu-se a Amazônia arder terrivelmente. Porém, a realidade não é exclusividade de nosso país, embora exista uma consciência maior aqui e ali, a questão é global. O interesse privado está sempre se sobrepondo ao social, com o capitalismo sempre ditando as regras.

O Que Arde está em algum lugar muito específico dessa equação quando puxa a identificação para a condenação fácil. Em um mesmo local, duas histórias se estabelecem simultaneamente: Amador é um incendiário que retorna para a casa da mãe depois de anos preso e uma grande queimada atinge uma pequena comunidade na Galícia, Espanha.

Logo nas primeiras cenas do novo filme de Oliver Laxe (Mimosas) é possível reconhecer o seu cinema provocador. O transformar da aura sobrenatural que acompanha o desaparecimento das árvores no registro natural de tratores que devastam a vegetação, sempre com um estilo visual muito marcante, é a cara daquilo que o galego produz.

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Laxe ambienta o espectador no ritmo daquele lugar. Nada é apressado e as coisas só se desesperam quando outros elementos, o fogo ou o vento, muito mais donos do tempo, aparecem. É interessante como o diretor faz com que essas intervenções mudem o andamento do filme, despertando outras reações em quem acompanha o filme e destacando os sentimentos que ele deseja destacar.

Os mundos que O Que Arde compara são explorados separadamente. Um homem e suas particularidades, uma companhia e suas intenções; ações suspeitas, ações criminosas; o estigma e a desculpa. Poucas vezes os dois dividem o mesmo espaço e, quando acontece, é ocasionalmente, em um simples pastorear, sem que haja compreensão de um pelo outro.

Além disso, por trás de toda estética, o filme se vale da força de personagens marcantes como o próprio Amador ou, mais do que ele, sua mãe Benedicta e da permanência de suas imagens. Uma mensagem impactante que merecia ser conhecida por todos.

Um Grande Momento:
O vento está virando.

[43ª Mostra de São Paulo]

Cecilia Barroso

Cecilia Barroso é jornalista cultural e crítica de cinema. Mãe do Digo e da Dani, essa tricolor das Laranjeiras convive desde muito cedo com a sétima arte, e tem influências, familiares ou não, dos mais diversos gêneros e escolas. É votante internacional do Globo de Ouro e faz parte da Abraccine – Associação Brasileira de Críticos de Cinema, Critics Choice Association, OFCS – Online Film Critics Society e das Elviras – Coletivo de Mulheres Críticas de Cinema.
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