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O Suplente

Caminhos iguais

(El Suplente , ARG, ESP, MEX, ITA, FRA, SUI, RUN, 2022)
Nota  
  • Gênero: Drama
  • Direção: Diego Lerman
  • Roteiro: Diego Lerman, María Meira, Luciana de Mello
  • Elenco: Juan Minujín, Alfredo Castro, Bárbara Lennie, Rita Cortese, Renata Lerman, María Merlino
  • Duração: 105 minutos

O início de O Suplente é promissor não por sua premissa, mas pela forma com que Diego Lerman conduz aquele universo. Não parecemos estar diante de uma obra padrão do gênero, porque sua condução nos afirma que se trata de um olhar para outros pontos de tensão daquela narrativa. Uma das cenas iniciais, uma festa após um evento literário, nos mostra o protagonista como um homem ressentido por ter sido preterido, ou seja, existe ali uma carga humana muito mais profunda do que costumamos ver em títulos que tratam professores como humanos impolutos. É uma via de regra interessante a ser considerada, que agrega sinceridade a um personagem que poderia ser tratado como um sobrevivente. 

Lerman é um diretor com gás novo, que dirigiu anteriormente Uma Espécie de Família, título interessante protagonizado por Bárbara Lennie. Suas intenções antropológicas, um cinema de cunho social, se faz ainda mais presente aqui, em invólucro mais tradicional. Com um elenco talentoso disposto a puxar pra si a responsabilidade do brilho, O Suplente é um projeto que nasce buscando o diferencial no resultado de sua equação esperada. Em partes isso é conseguido graças a esse esforço coletivo e mostrar uma aura ainda não investigada para esses preâmbulos já acessados à exaustão. A partir de determinado ponto, o filme joga a toalha e começa a apresentar uma sucessão de repetições de ideias, caindo no lugar comum de sempre. 

O Suplente
BF París

Professor incomodado que se torna idealista + alunos problemáticos e desinteressados + criminalidade vigente = nós já sabemos, né? Por mais que exista uma moldura com algum lastro de sofisticação, o caminho não muda muito, quando a produção enfim engrena. O produto tem sua dose de sedução e conseguimos alcançar a mão do diretor, que nos leva por esses caminhos esperados com interesse. Ao mesmo tempo, é um quadro conhecido cuja reprodução acontece de tempos em tempos em muitas cinematografias, logo por mais que seja muito bem filmado, a produção poderia fugir às origens, mas as abraça em determinado momento. Como se não houvesse outro destino, O Suplente repete os lugares que essa mesma narrativa já percorreu antes. 

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O que salta aos olhos, no entanto, é o grupo formado pelos jovens, todos com imensas qualidades, de coesão absurda entre si e também com essas personas, um grupo onde todos parecem muito à vontade dentro do filme. Além deles, não podemos deixar de notar o trabalho de dois dos maiores atores latino-americanos da atualidade, Juan Minujín (de A Ira de Deus e Matrimilhas) e Alfredo Castro (de Tony Manero e De Longe te Observo). Pai e filho na ficção, a relação construída ali não é a mais óbvia para o lado que for, nem derramada ao extremo nem absolutamente distante. Com química e talento, Minujín e Castro exalam profissionalismo, mas também controle da sensibilidade que precisam demonstrar; suas leituras desses personagens elevam seu manancial de captação. 

O Suplente
BF París

É o elenco, no fim da jornada, que salva a sessão de O Suplente de uma sensação maior de mesmice, que consegue puxar para si um brilho que aparece pouco. O trabalho de Lerman ainda consegue marcar presença na realização, ainda que o roteiro nem tente fugir dos lugares esperados. Um exemplo é a escalada do perigo e da violência que acaba cercando os personagens de maneira incontornável, e que nada tem de original. No trabalho de direção, no entanto, vemos o talento que ele já demonstrara anteriormente, sendo um sinal de que em breve uma melhor forma possa ser desenvolvida. Por enquanto, fica a tentativa e um alerta de que o futuro está a sua espera.

Um grande momento

A última aula

Francisco Carbone

Jornalista, crítico de cinema por acaso, amante da sala escura por opção; um cara que não consegue se decidir entre Limite e "Os Saltimbancos Trapalhões", entre Sharon Stone e Marisa Paredes... porque escolheu o Cinema.
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1 Comentário
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Julio Cesar m. de souza
Julio Cesar m. de souza
26/03/2023 12:24

O enredo é interessante, mas deixou muito a desejar na falta de contextualização do ensino aprendizagem, por parte do professor, que poderia ser melhor explorada. Visto que o docente era da área de literatura, poderiam problematizar a importância da literatura no meio social e profissional. Inclusive faltou uma aula sobre a viajem, escatológica, que é embarcar no submundo das drogas.

Editado em 1 ano atrás by Julio Cesar m. de souza
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