Crítica | Streaming e VoD

O Troll da Montanha

Lenda nórdica

(Troll, NOR, 2022)
Nota  
  • Gênero: Aventura, Fantasia
  • Direção: Roar Uthaug
  • Roteiro: Roar Uthaug, Espen Aukan
  • Elenco: Ine Marie Wilmann, Kim Falck, Mads Pettersen, Gard B. Eidsvold, Anneke von der Lippe, Fridtjov Saheim, Karoline Viktoria Sletteng Garvang, Dennis Storhøi, Yusuf Toosh Ibra
  • Duração: 95 minutos

A Noruega e os países escandinavos têm para si essas a primazia da mitologia dos ‘trolls’, figuras míticas e folclóricas que habitaram muitos contos de fantasia, e que ainda hoje se fazem presente dentro do habitat onírico da literatura nórdica. Não é um espanto então perceber que eles mesmos podem se fazer valer dessa imagem para construir suas próprias narrativas de uma ficção científica muito particular. Já sucesso na Netflix, O Troll da Montanha é uma produção com refinados efeitos especiais que transforma essa figura em um personagem fantasioso cultural, e acaba estando para eles assim como Godzilla estaria para o Japão. O resultado é uma produção divertida que encontrou seu lugar, sem oferecer maiores novidades. 

Roar Uthaug é um dos diretores noruegueses mais popularmente bem sucedidos da atualidade, já com sucessos em casa (A Onda) e fora de lá (Tomb Raider: A Origem), que acabam por justificar sua presença nessa produção vistosa. Próprio para toda a família apesar da ligeira violência, o filme não deixa nada a dever a produções norte-americanas com o mesmo viés e a mesma finalidade: entreter, com viço. Esse lugar onde já estiveram coisas como Jurassic Park, King Kong e o próprio Godzilla hoje é ocupado por uma produção muito mais modesta que essas, que não terá seu lugar entre as grandes bilheterias de seu ano, mas que pretende encontrar o mesmo público. Pelo visto, esse encontro já foi marcado e aceito. 

O Troll da Montanha
Francisco Munoz/Netflix

Em tempos onde não sabemos como atrair de volta o público aos cinemas de maneira ampla, essa produção estar em um streaming poderoso, já mostra a força dos novos tempos. Que além disso e do orçamento pouco avantajado, O Troll da Montanha não faça feio e consiga até mesmo impressionar pela riqueza de detalhes, é um avanço de uma tecnologia que não está mais restrita aos grandes produtores. Os traços do ‘troll’ protagonista do filme são tradicionais da criatura, e ao mesmo tempo muito bem reproduzidos em uma escala que o filme encare como agigantada, para provocar pânico. Movimentado, o filme tem um autor que já é afeito a criações de cinema fantástico e apocalíptico, que são a base também desse tipo de filme aqui inserido. 

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Infelizmente a narrativa de O Troll da Montanha não poderia ser mais tradicional. É aquilo da descoberta extraordinária feita por uma jovem obstinada, que no passado viu seu pai sucumbir ao não conseguir provar suas teorias científicas. Quando o terreno fantástico adentra, acertos de contas entre pai e filha, militares gananciosos, políticos abestalhados, jovens prodígios da ciências que salvam a pátria, um gênio incompreendido e um interesse romântico não concretizado dentro da narrativa deixa tudo na ordem do esperado. É uma fórmula que já foi utilizada de diversas formas e em diversos tempos diferentes, e aqui creio que caiba pela forma como uma produção norueguesa precisa encontrar um público maior possível para ter um lugar ao sol. 

O Troll da Montanha
Francisco Munoz/Netflix

Com um elenco super antenado na reprodução desses estereótipos citados acima, prontos para a reprodução de todos os códigos esperados, O Troll da Montanha (assim como o lançamento do dia anterior ‘netflixiano’, Meu Nome é Vingança) é uma receita de bolo das mais consumidas. Diferente do longa italiano, algum charme se faz presente aqui, nem que seja pelo prazer de ver acomodar em um país tão distante da cultura do blockbuster tradicional gringo com tanta destreza. É uma delícia acompanhar uma trama que sabemos exatamente onde vai chegar e nem tentar ser inusitada; tudo que vemos já testado e aprovado anteriormente, e ao espectador cabe relaxar e se divertir mais uma vez, ou se aborrecer com o requentado. 

O que precisa ser lamentando na verdade é o desperdício de O Troll da Montanha com a mitologia que pretende descrever. Se toda a lenda por trás dos ‘trolls’ se resume a eles não poderem receber luz do sol, e alimentar depois de meia noite ou ouvir os sinos de uma igreja, e o filme só tenha essas informações pra dividir, então é porque o serviço ficou pela metade. Nem se debruça sobre a narrativa (que é de domínio da região, sempre bom lembrar), nem desenvolve novas percepções na direção de seu personagem central, muito menos tenta sair do lugar estabelecido pela máquina industrial. Do jeito que ficou, Uthaug se cerca de um lugar confortável para mostrar ao mundo que suas lendas são iguais às de qualquer outra história do passado. 

Um grande momento

A primeira aparição explícita

Francisco Carbone

Jornalista, crítico de cinema por acaso, amante da sala escura por opção; um cara que não consegue se decidir entre Limite e "Os Saltimbancos Trapalhões", entre Sharon Stone e Marisa Paredes... porque escolheu o Cinema.
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