(On the Rocks, EUA, 2020)
Sofia Coppola teve sua carreira catapultada em 2003 por Encontros e Desencontros, que lhe rendeu um Oscar (melhor roteiro) e sinal verde para fazer mais filmes e expandir sua carreira. Quase duas décadas depois é melancólico constatar que a cineasta norte-americana não sai de seu mundinho pequeno burguês em On The Rocks, seu novo filme em exibição na Apple TV+.
O filme até que tem um ou dois momentos luminosos mas é tedioso até o limite da exaustão, especialmente pela insistência da cineasta em apenas riscar a superfície. Por mais que essa produção, estrelada pela miscigenada Rashida Jones não seja mais uma versão de white people problems que os detratores da filha do Francis Ford usam para classificar seus filmes mais recentes, On The Rocks é tão arraigado no mundinho privilegiado de Laura (ou Sofia?), uma jovem mãe e escritora, de família abastada que está vivendo uma crise no casamento com o marido publicitário, que fica difícil despertar o interesse genuíno de quem o assiste.
Bem dirigido mas nada inventivo, parece um comercial de martini – ou uma continuação melancólica de Encontros e Desencontros se ao invés de ator, Bob Harris fosse um marchand que tivesse uma filha temporã. Tudo está em seu devido lugar, como no belo apartamento no Soho: a iluminação, os enquadramentos, os planos, os cortes, a trilha sonora… Mas a preguiça ou falta de inspiração de Sofia Coppola não permitiram aprofundar a história para além do carisma realmente adorável de Bill Murray. Nesse filme rodado antes da pandemia e lançado em outubro no streaming, o ator-fetiche de 9 entre 10 cineastas norte-americanos descolados (Jim Jarmusch estamos olhando pra você também) é Félix, mulherengo inveterado e pai apaixonado, que quer porque quer comprovar a teoria de que o genro está pulando a cerca e aproveitar para passar um tempo com a cria.
A interação entre a personagem dele e a de Rashida, a filha meio chata e insegura, não tem uma sinergia que instigue a acompanhar a dupla, porém, especialmente pela maneira absolutamente machista e egoica do pai ricaço, On The Rocks não deixa a bebida virar água tão rápido. Mas é complicado um longa-metragem não atingir seu objetivo de comover e fazer rir, de dramatizar a vida real de uma mulher entre 35 e 39 anos que está se sentindo em desequilíbrio…. simplesmente se sustentando em um par de boas cenas com falas como “Me dei conta de que você era um pessoa certa vez, quando tinha 9 meses” graças ao magnetismo de Bill Murray. Até pela força que isso dá ao fator masculino, que On the Rocks tanto tenta ridicularizar em certa medida – seja trazendo a monogamia ou a paternidade para o centro da história.
Diferente de um belo relógio da Cartier, seja em couro, retrô, ou de aço e ouro branco, não há engrenagens que provoquem emoção ou engajem nesse filme escrito e dirigido por Sofia Coppola.
Um grande momento
Diálogo com o policial que interrompe a perseguição automobilística.