- Gênero: Aventura, Comédia
- Direção: Timo Tjahjanto
- Roteiro: Timo Tjahjanto, Johanna Wattimena
- Elenco: Abimana Aryasatya, Putri Marino, Lutesha, Arie Kriting, Kristo Immanuel, Marthino Lio, Michelle Tahalea, Kho Michael, Donny Damara, Budi Ros
- Duração: 140 minutos
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É muito bom ver a Netflix sair da zona de conforto que permeia boa parte de suas produções regulares e apostar em um combo tão apimentado quanto esse Os 4 Malfeitores, produção da Indonésia que é o atual hit do streaming. Que além de ousado e cara de pau o filme ainda esteja fazendo sucesso no Brasil, é o sinal de que mesmo a conformidade do público médio tem salvação, no meio dessa crise do audiovisual. A questão é aproveitar esse momento de aceitação a um petardo tão fora dos padrões do mercado e torcer para que não seja uma aposta única, e que se sigam outros eventos igualmente apetitosos e sem qualquer compromisso com a lógica, o bom gosto e o bom mocismo quanto aqui.
Entre a cinefilia mais afeita ao vulgarismo, o nome de Timo Tjahjanto na direção já provoca um certo frisson e não é de hoje. Com A Noite nos Persegue, ele foi então entronizado nesta ala menos retilínea da cinematografia mundial, ao conjugar tantos elementos em um mesmo caldeirão e marcar a ferro esse compromisso com a porralouquice irrestrita. Essa nova produção é uma porta de entrada na Netflix de uma ausência de pretensão cerebral, que se comunicaria com as pretensões do canal. O que é servido aqui de bandeja é absolutamente instintivo e de pouca consonância entre outros exemplares comuns; talvez o sul-coreano Kim Jee-Woon se comunique bem, mas é uma prova de que conhecemos pouco a cinematografia indonésia, e esse é um cartão de visitas pra lá de respeitável.
Esqueça a correção narrativa e algo parecido com uma estrutura reconhecível a um cuidado prévio. A todo momento, temos a impressão de que Os 4 Malfeitores se interessa em quebrar nossas expectativas, principalmente no que concerne a vigência de padrões. Não se trata do choque pelo choque, e na verdade nem é um choque especificamente o que acabamos por assistir, ao menos não no sentido gráfico. A estética aqui é que causa algum susto rápido, ao sermos conectados ao cinema que se mostra. Com mais de duas horas de duração, não demora ao percebermos que Tjahjanto não veio para pedir licença ou autorização sobre nada; ele vai apenas entregar o que lhe der na telha, e nós que saibamos com o que estamos lidando.
Seria leviano dizer algo relacionado a violência do filme, apenas citando essa característica como constante e reiterativa. Os 4 Malfeitores de fato é um filme que abusa do uso da hemoglobina em cena, mas se não é algo ininterrupto, tampouco é discreto. O que fica claro nessa utilização é como o diretor também decide o que e como irá conduzir seu arsenal de ideias e impulsividade para esse dado. Assim como outros elementos cênicos, a violência aqui é anárquica não apenas em seu volume ou intensidade, mas principalmente em seu ritmo; quando achamos que está excessiva, ela cessa, e o oposto também ocorre. Essa é uma atenção da produção como um todo: não há registro de rotina estética, as coisas acontecem (em maior ou menor extensão) até deixarem de acontecer.
Essa audácia generalizada em criar um conceito imagético é proveniente dessa inquietação do cinema atual, e de um cinema específico que não se interessa em responder questões diretas a um espectador específico. Talvez Os 4 Malfeitores acabe por ser tão fascinante e sedutor porque Tjahjanto faz o que faz para si mesmo, sem se preocupar com a avaliação alheia. Tudo que está em cena o contempla, e cabe em seu filme, porque seu filme abraça um sem número de intenções e vertentes até deixar claro que sua diretriz é com coisa alguma, que não suas próprias verdades, criadas em particular para esse filme. No próximo provavelmente ele volta a pensar no assunto, e o que tiver de ser mantido será, e o que não tiver não será. Vida que segue.
Não confundam, no entanto, essa direção de algo desleixado ou sem unidade. Os 4 Malfeitores é um prodígio de ritmo e cuidado com o plano, e Tjahjanto promove cenas tão absurdas quanto cretinas, muitas delas que não sairão do pensamento tão cedo. Ainda que sua duração ultrapasse o bom senso, revelando um pouco de gordura aqui e ali, também essa despreocupação do todo acaba servindo também como marca registrada de um projeto que não te dá as pistas certas quase nunca. O riso e a diversão é subjetivo a cada nova cena, e ainda que não aconteça nem um nem outro com o espectador, não irá faltar a certeza de que esbarramos em um pote de coisas diferentes, coloridas e exuberantes. Fala a verdade, não é todo dia que o cinema surpreende.
Um grande momento
A invasão final ao hotel