- Gênero: Drama
- Direção: Vincent Maël Cardona
- Roteiro: Vincent Maël Cardona, Chloé Larouchi, Maël Le Garrec, Rose Philippon, Catherine Paillé, Romain Compingt, Baptiste Fillon, Maxime Crupaux
- Elenco: Thimotée Robart, Marie Colomb, Joseph Olivennes, Fabrice Adde, Louise Anselme, Younes Boucif, Maxence Tual, Judith Zins, Philippe Frécon
- Duração: 96 minutos
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Era 1981, François Mitterrand era anunciado como o novo presidente da França. Pela primeira vez o país elegia um socialista. Escolhendo um dos grupos dos muitos que comemoraram esta vitória, a câmera surge como registro amador dos momentos da apuração, ali estão aqueles que retornarão em breve com personalidade e função definidas, na Rádio Varsóvia ou em lugares aleatórios, e, entre eles, o que se destaca pela contenção, pela falta de empolgação justamente no momento. Aquele que “só conseguia pensar no que levaria ao ar”, Philippe Bichon é o narrador que nos conduz por Os Magnéticos.
O diretor Vincent Maël Cardona aproveita dessa narração que logo se revela declaração para partir em um longo flashback, onde busca a ansiedade, o desespero, a esperança e a angústia da juventude dos anos 1980. Nesse momento pós-revoluções, guerra fria, neoliberalismo e redefinição de padrões sociais, lhe interessa mostrar como as histórias reagem à História. Não é à toa que Mitterrand abre o filme e é a Rádio Varsóvia o espaço de criação dos dois irmãos, ou haja ali toda a questão do P4, gíria militar para a dispensa de soldados, e do grupamento ser justamente na Alemanha.
Philippe e Jerôme são resultado de seu tempo e sua sociedade, embora a família esteja ali da maneira atemporal e com sua influência intacta e perpétua, neles e em qualquer outra história já contada. Os Magnéticos tem essa vontade de falar de tudo, ser ao mesmo tempo político e familiar, sem deixar de lado a complexidade dos temas. Mas quer falar de amor também e de autodescoberta, e é nessa abertura do leque que se complica. Não se atinge o ponto da memória ou mágoa com a ruptura materna, nem mesmo a profundidade da discussão da imposição bélica à população, isso para ficar em dois pontos diametralmente opostos que são levantados.
Falta comedimento e uma melhor definição de caminhos. Isso se aplica também à estética. Fora a trilha musical, a gramática visual é bastante irregular e ingênua, com passagens que parecem filmadas para outras produções, dado o grau de desconexão com o resto do filme. Porém, alguns bons momentos valem ser citados, como o quando Marianne se apresenta e a introversão de Philippe se revela, não só pela postura do ator Thimotée Robart, mas pela disposição da cena e a composição da sequência. Outro momento forte do filme, em que atuações e a fotografia de Brice Pancot fazem muita diferença é no constrangimento do jantar que se transforma em fúria. O modo como transita entre os indivíduos até eles chegarem ao limite, com boas escolhas de plano e contraplano e dando tempo à ação, dá peso e emoção à passagem.
Não que seja perfeito, longe disso, mas Os Magnéticos tem essa coisa afoita da juventude até no modo como conta sua própria história e é interessante voltar aos anos 1980 pela ondas sonoras de Philippe, acompanhando suas dores e seus amores. No movimento pendular da História, isso lembra inclusive os microfones na mensagem à Marianne, esses sons do passado encontram, no macro, ecos no presente e podem ser os sons do futuro. No micro, os sons da dor e da libertação levam ao recomeço. Mas o recomeço de uma nova pessoa.
Um grande momento
O jantar