Crítica | CinemaDestaque

Os Mercenários 4

Tranqueira do bem

(Expend4bles, EUA, 2023)
Nota  
  • Gênero: Ação
  • Direção: Scott Waugh
  • Roteiro: Kurt Wimmer, Tad Daggerhart, Max Adams, Spenser Cohen
  • Elenco: Sylvester Stallone, Jason Statham, Megan Fox, Andy Garcia, Dolph Lundgren, 50 Cent, Tony Jaa, Iko Uwais, Randy Couture, Jacob Spicio, Levy Tran, Daren Nop
  • Duração: 100 minutos

É bom que Os Mercenários 4 praticamente abra com uma cena constrangedora entre Jason Statham e Megan Fox, com um desconcertado Sylvester Stallone como testemunha. A partir daí, nada pode ficar muito pior e acabamos nos lembrando que, ao contrário do que provavelmente era previsto no papel, a franquia Os Mercenários nasceu para ser um primo bem pobre de Velozes e Furiosos, então não tem como cobrar muito de um projeto que você sabe o que pode entregar – e o que não pode. Espere se divertir, espere momentos deliciosamente constrangedores, espere a quase protocolar performance ruim de Fox, espere encontrar um vilão-surpresa no final: quase tudo aí é cumprido. O que já não podemos mais esperar é que esse elenco receba novos convidados respeitáveis; o que era uma brincadeira viável em cada edição, agora parece ter se encerrado.

Um exemplo é esse acréscimo feminino, que viria a revitalizar a franquia, torná-la mais representativa e puxar para si nomes históricos da ação entre mulheres. Aí temos mais uma vez o apagamento de uma Pam Grier, que é efetivamente a primeira grande heroína de ação, e como Jennifer Lawrence fez questão de demonstrar em infelizes falas, segue sendo esquecida; ou Milla Jovovich, que fez a carreira nesse lugar; e nem vou citar Sigourney Weaver, por motivos óbvios. Nenhuma dessas mulheres está em Os Mercenários 4, então o que fazer para reparar tal estado de representação precária? A resposta deveria ser qualquer uma, que não prender Fox e Levy Tran em um quarto com grande parte do elenco masculino, e forçá-las a desaparecer da ação. Ou seja, o que era pra ser representativo, termina com Fox em blusas justas mostrando os mamilos. 

Outro tema que já não pode mais ser cobrado é o quanto estética e tecnicamente um capítulo vai evoluir para o outro. Quando leio que Os Mercenários 4 custou 100 milhões de dólares, a certeza é de que tudo foi embolsado pelo elenco, e sobrou um trocado para conceber visualmente a produção. O filme não apenas continua pobre esteticamente, como continua parecendo que faltava algumas muitas camadas de acabamento em efeitos especiais para ficar minimamente aceitável. Ainda assim, tem algo de superior ali em relação aos anteriores, mas que ainda é pouco, tendo em vista que estamos em mercado competitivo, e que o espectador que é assolado por títulos de grandes orçamentos, receba algo assim, com explosões onde o CGI nem tenta ser disfarçado e chroma key vagabundo.

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Esqueçam também o roteiro. Apenas uma desculpa para reunir o elenco mais uma vez, Os Mercenários 4 trata da milionésima vez onde um grupo tenta proteger o mundo de um doido que quer vender ogivas para mandar tudo pelos ares, uma vingança tardia contra um inimigo de rosto desconhecido do passado e uma morte trágica (pelo qual ninguém sofre direito, vamos combinar) que irá motivar o grupo todo. Me espanta que, para isso, tenha sido necessário oito mãos, que só não é maior do que a lista de produtores executivos; parei de contar os créditos quando passaram de 25 nomes. Nada disso foi suficiente para tornar o filme um pouco mais profissional e competitivo, como já dito. Estamos diante de mais um filme, sem qualquer algo de verdadeiro, ou especial. 

Tirando isso tudo dito, Os Mercenários 4 é até bem divertido. Tem uma cena de sátira aos influenciadores que me fez feliz que exista, mesmo que a sessão de imprensa estivesse cheia de criaturas como a que o filme mostra, e elas provavelmente não se enxergaram naquele lugar. Outro ator/personagem que aceita a piada com gosto e se vale delas para ficar maior é Dolph Lundgren. O astro nunca foi reconhecido como um ator memorável, mas encontra na série uma oportunidade para brincar com a própria aparência, com sua idade (e dos outros, de quebra), e se divertir de verdade. Além disso, o filme perdeu um pouco sua escala de mentiras escandalosas, mas elas continuam lá para nos fazer lembrar do que estamos assistindo, e do porquê isso ainda é um programa cheio de simpatia. A violência gráfica excessiva também é um ponto plus da produção, em tempos tão politicamente chatos.

Tudo que é relativamente sério no filme acaba por soar deslocado, e se saem melhor as cenas onde nenhum tom dramático é empregado; não estamos falando de um filme com profissionais formados por Laurence Olivier. Que a amizade entre Stallone e Statham continue proporcionando os momentos mais afetuosos de Os Mercenários 4 é um sinal de que isso é maior do que o filme, e provavelmente já faz parte da vida real. O resto é de uma despretensão tão evidente, que nem faz muito sentido surrar algo assim; vá por sua conta e risco, mas entenda qual o lugar que esse filme ocupa, e para quem ele é vendido. Existe sim a possibilidade de se aborrecer menos, caso sua cabeça esteja livre do modo cobrança.

Um grande momento

Na piscina com Christmas

Francisco Carbone

Jornalista, crítico de cinema por acaso, amante da sala escura por opção; um cara que não consegue se decidir entre Limite e "Os Saltimbancos Trapalhões", entre Sharon Stone e Marisa Paredes... porque escolheu o Cinema.
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