Ah, a falta de noção nos cinemas não para de surpreender. Com a chegada desses telefones celulares com telas do tamanho de uma televisão e a falta de paciência das pessoas que querem assistir ao filme, a coisa está ficando realmente complicada.
Naquele dia, o título da vez era o longa-metragem nacional Isolados, estrelado por Bruno Gagliasso e Rejane Alves. O filme, um suspense de terror, é bastante escuro, desses onde a direção de fotografia se aproveita da ausência de luz para criar o clima.
Voltemos à história fora da tela.
Passava da metade do filme quando um sujeito na segunda fileira – detalhe para a sala quase vazia e a pessoa fazer questão de sentar em uma cadeira onde todos os outros espectadores da sala estivessem atrás dele – tira seu iPhone 6 ou Galaxy Note do bolso. Na escuridão do cinema, o quase tablete virou um holofote. É quando se escuta o primeiro grito:
– Desliga o celular!
O rapaz terminou de ler a mensagem no Whatsapp e guardou o celular de volta no bolso.
Quinze minutos depois ele vai e tira a mini-TV do bolso de novo e começa a passar o dedo para cima, para cima, provavelmente lendo sua timeline no Facebook. Com a situação absurda, uma outra pessoa deu o segundo grito:
– O celular aí na frente está atrapalhando.
O rapaz ainda passou o dedo na tela umas quatro outras vezes, como se nada daquilo fosse com ele, e só depois desligou a tela.
Voltamos ao filme, mas por pouco tempo. Poucos minutos depois, lá vem a luz de novo.
– Desliga essa merda!
O grito lá de trás veio seguido de uma garrafa d’água vazia, que não acertou o cara por sorte, mas bateu na cadeira dele.
Com o celular ainda aceso, a tal pessoa tentou se levantar da cadeira para tirar satisfação com o arremessador, mas foi impedido pelo amigo que o acompanhava, que fez questão de tomar o celular da mão dele, guarda-lo no bolso e sentenciar:
– Senta aí que você fez merda e mereceu.
Todos puderam voltar a ver o filme, o que foi muito bom, mas jogar garrafa no coleguinha, por mais que ele esteja errado, também não pode.
Tipo hooligans, né? Ia ser sucesso e eu ficaria bem mais calma nos cinemas.
Ainda acho que deveriam fazer um esquema de identificação facial dos maus espectadores e obrigar essa galera a ficar a uma distância mínima de qualquer sala de cinema. Mas talvez só um lanterninha já resolvesse.
Pois é. As coisas estão saindo do controle. E as pessoas pensam que, porque estão pagando, podem fazer o que bem entendem. Está cada dia mais difícil para os cinéfilos.
Não adianta mais pedir com educação “por favor, desliga o celular”. Você vira o chato do cinema. Eu confesso, já recorri a bolinhas de papel várias vezes. Só assim para o apelo ser efetivo.
Tá difícil, e pelo visto é no Brasil inteiro.