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As Duas Irenes

(As Duas Irenes, BRA, 2017)
Drama
Direção: Fabio Meira
Elenco: Priscila Bittencourt, Isabela Torres, Marco Ricca, Suzana Ribeiro, Inês Peixoto, Teuda Bara, Maju Souza, Ana Reston, Marcela Moura
Roteiro: Fabio Meira
Duração: 89 min.
Nota: 8 ★★★★★★★★☆☆

Chegada da adolescência, momento em que o enfrentamento e a inadequação com a família surgem. Ser a filha do meio, uma vida de estranhamento e constante vontade de se sentir integrado. É nesta realidade que Irene está inserida. Não parece haver espaço para ela naquela dinâmica cotidiana, tudo é estranho e diferente do que ela gostaria que fosse.

Em sua família de classe alta, a mãe dá valor para coisas que ela não considera importantes e divide a atenção entre a filha mais velha, uma princesa, e a caçula, sua queridinha. O pai, bastante ausente, ainda tem uma outra família e uma outra filha com a mesma idade que a dela, para piorar com o mesmo nome também.

É no descobrir essa nova Irene que aquela Irene, filha do meio, se perde ainda mais. A ideia dela é se aproximar e tentar entender o porquê daquilo tudo e, de certo modo, se conhecer também. É no invadir uma nova dinâmica familiar, não aquela tradicional socialmente aceita, com uma relação de afeto que ela não conhece de perto, que a menina se perde ainda mais.

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Em seu primeiro longa-metragem de ficção, Fabio Meira, que também assina o roteiro, vai buscar na história de sua própria família a inspiração para o filme. O conto doméstico está com ele desde a infância e se transforma em roteiro depois de sua experiência na Escola de Cinema de Cuba.

O modo como esse reconhecimento, mesmo que gradual, das duas irmãs que não se conheciam é muito bem trabalhado no roteiro e nas imagens, o que ganha ainda muitos pontos com a atuação precisa – e impressionante – de Priscila Bittencourt, uma atriz que parece pronta a encarar qualquer papel, e de Isabela Torres, ambas iniciantes no cinema.

A duplicidade do encontro é o ponto alto do longa, o modo como ambas, após o estranhamento inicial e um rápido período de adaptação, começam a se compreender e identificar, começam a perceber que tudo o que foi obrigado a terem em comum tem um sentido interno.

O que agrada muito em As Duas Irenes é que nada é gratuito ou excessivo na exposição, há uma naturalidade no que se vê e, de certo modo, a contenção no desenvolver da identificação faz com que a história torne-se mais próxima, caseira e de fácil compreensão.

Um filme todo muito bem pensado, seja na arte de Fernanda Carlucci, que reconstitui uma época e duas realidades distintas dentro deste mesmo período, ou no valioso trabalho de direção de fotografia de Daniela Cajías, sempre muito voltado ao conflito.

Simples na forma e ao mesmo tempo profundo e complexo em seu conteúdo, As Duas Irenes é um filme que merece ser descoberto e aproveitado em todos os seus detalhes. Ganhador dos kikitos de melhor roteiro, ator coadjuvante (Marco Ricca, incrível como o pai) e direção de arte no 45º Festival de Gramado, estreia nos cinemas brasileiros dia 19 de setembro.

Um Grande Momento:
O final.

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[45º Festival de Gramado]

Cecilia Barroso

Cecilia Barroso é jornalista cultural e crítica de cinema. Mãe do Digo e da Dani, essa tricolor das Laranjeiras convive desde muito cedo com a sétima arte, e tem influências, familiares ou não, dos mais diversos gêneros e escolas. É votante internacional do Globo de Ouro e faz parte da Abraccine – Associação Brasileira de Críticos de Cinema, Critics Choice Association, OFCS – Online Film Critics Society e das Elviras – Coletivo de Mulheres Críticas de Cinema.
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