Crítica | Streaming e VoD

Paralisia

Petrificados pela mesmice

(Locked in , EUA, RUN, FRA, 2023)
Nota  
  • Gênero: Suspense
  • Direção: Nour Wazzi
  • Roteiro: Rowan Joffe
  • Elenco: Famke Janssen, Rose Williams, Anna Friel, Alex Hassell, Finn Cole
  • Duração: 93 minutos

Sei que já escrevi esse texto muitas vezes antes, talvez porque a Netflix esteja produzindo esse filme muitas vezes. Paralisia é o atual campeão de audiência deles, e isso não muda a vida de ninguém – nem deles, nem do filme, e muito menos a nossa. Ainda que possamos puxar o freio de mão para seus muitos (muitos mesmo!) problemas narrativos e estéticos, e tentar aproveitar sua duração curta como um passatempo fraco que nos prende do início ao fim, não é tudo que se consegue perdoar ali. Pra falar a verdade, apesar de sim, ter um envolvimento com a produção padrão ‘Supercine dos anos 90’, qualquer um daqueles exemplares tinham uma carpintaria mais bem cuidada, algumas saídas mais interessantes.

Aqui, nem um elenco temos. E quando falo isso, não estou necessariamente criticando quem aparece, mas justamente quem não aparece. Vendida como uma “família isolada”, essa é a desculpa para que Paralisia não nos mostre mais ninguém além do quinteto em cena. E estamos falando de uma parte significativa em um hospital, onde mais ninguém aparece em cena. Se isso funciona para construir uma ambientação soturna, e esse isolamento ao qual estão reféns todos ali ser reforçado por imagens vazias, em outros momentos isso só soa como economia porca. É sério, um casamento com cinco pessoas? Um enterro sem ninguém? Uma festa de aniversário com quatro? São muitos pedidos de suspensão da descrença que o filme faz. 

Além de criar personagens absolutamente dependentes, sem qualquer motivo aparente. Solução de telenovela, sabe… daquelas coisas cuja credibilidade nunca existiu. Tipo, a protagonista do filme é uma pessoa desapegada de bens materiais, então porque não fugiu da família que a oprimia na primeira oportunidade? E o jovem adoecido, porque precisou aguentar a madrasta da Branca de Neve por toda a vida? E o final do filme, quando uma personagem se arrepende dos malfeitos porque… porque o roteiro queria que fosse assim, e é isso. Paralisia não se preocupa muito com verossimilhança ou coisa que o valha, ele apenas quer entregar um produto novo pro streaming, e que o espectador siga sua vida até o próximo exemplar. 

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O tal elenco de cinco, bem, ninguém ali tem culpa do filme ser o que é. A atriz protagonista chama Rose Williams, estava muito bem em Sra. Harris vai a Paris, mas a personagem aqui é muito ruim, e ela não consegue suprir as muitas ausências de padrão. Famke Janssen dispensa comentários, e sua malvadona cheia de questões não chega a ser um desafio. Finn Cole é um jovem ator de séries (Peaky Blinders) que tem o pior tipo em cena, também não pode ser culpabilizado. Já Anna Friel, tem uma personagem absolutamente detestável, uma enfermeira intrometida que, em particular, torcia muito para que fosse colocada de escanteio. Alex Hassell (de Noite Infeliz) talvez seja o único destaque, mas nada que o garanta como salvador; tem o personagem mais obviamente ambíguo, que ele consegue dar conta de mostrar algum interesse. 

Absolutamente esquecível, Paralisia após esse sucesso inicial se prepara para pertencer àquela categoria crescente da Netflix – os filmes que são produzidos mensalmente a toque de caixa, que no mês seguinte serão tratados como o grande nada que são. Enquanto dura a projeção, no entanto, o pacote de emoções baratas que ele entrega nos faz acompanhar direitinho essa ridícula trama que gira em círculos sobre pessoas que fingem ser uma família por motivos desconhecidos. Todos se odeiam e poderiam ter poupado nosso tempo (e também o deles) revelando isso, e indo cada um viver a sua vida. Não ter feito isso, fez brotar o roteiro sem pé nem cabeça desse filme, que irrita mais pela perda de tempo do que por ser algo que vá nos humilhar. 

Um grande momento

Lina enfrenta Katharine após o bolo de aniversário

Francisco Carbone

Jornalista, crítico de cinema por acaso, amante da sala escura por opção; um cara que não consegue se decidir entre Limite e "Os Saltimbancos Trapalhões", entre Sharon Stone e Marisa Paredes... porque escolheu o Cinema.
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