Crítica | Outras metragens

Paloma

Quebrando expectativas

(Paloma, FRA, 2022)
Nota  
  • Gênero: Ficção
  • Direção: Hugo Bardin
  • Roteiro: Hugo Bardin
  • Elenco: Hugo Bardin, Augustin Boyer, Le Filip, Julia Steiger, La Grande Dame, Rouge Mary
  • Duração: 28 minutos

Paloma, diva, maravilhosa, está montadíssa, com seu colant, saltão, peruca colorida, cílios gigantes, várias estrelas e muita purpurina. A situação, entretanto, não é das melhores. Na beira das estrada, com uma mala enorme e uma urna funerária, precisa de uma carona para chegar em um compromisso de trabalho para garantir algum dinheiro. A conexão com ela, que é a drag de Hugo Bardin, também diretor e roteirista do filme, é imediata e se dá não só pelo visual. Ela nos provoca a saber quem é, porque está carregando aquela urna e para onde vai.

Quando Paloma entra no bar na beira da estrada, o curta tenta demonstrar o estranhamento, mas isso se transforma logo, em especial com a presença de Mike, o caminhoneiro de quem ela se aproxima. O curta se contrói na quebra de expectativas. Vivido pelo ator Augustin Boyer, o homem não está nem aí para quem ela é ou sua aparência. Ao contrário do habitual, é ele quem se vê rotulado de pronto, no amendoim com pipi dos caminhoneiros porcos que nada combinam com as pantufas para não sujar o tapete de seu caminhão super limpo, onde a única foto de mulher é a de Nossa Senhora.

A relação de Serge e Paloma vai se estabelecendo aos poucos, e é divertido ver como essas duas pessoas sem nada em comum vão se revelando uma para a outra, monstrando-se interessantes em suas individualidades. Seguindo uma linha bem simples, o curta sabe que tem a sua principal força nos personagens, nos diálogos, e investe nas atuações. Entre as tentativas de imposição dele e a manipulação dela, a trama se desenvolve até permitir a chegada com naturalidade às cenas de performance e catarse na boate. E claro, àquilo que, de certa forma, passamos a esperar em uma conformidade tão afeita a narrativas de amor romântico.

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Paloma é um filme que ganha pontos por apostar na leveza e estar interessado em abordar um universo nem sempre é representado dessa maneira. Entre tantas histórias tristes, de desilusão e que trazem a crueza da realidade LGBTQIAPN+, onde as poucas histórias positivas não tem espaço, o doçura da inversão das expectativas e a possibilidade do final feliz caem muito bem.

Um grande momento
“Então foi a primeira vez”

[13º MyFrenchFilmFestival]

Cecilia Barroso

Cecilia Barroso é jornalista cultural e crítica de cinema. Mãe do Digo e da Dani, essa tricolor das Laranjeiras convive desde muito cedo com a sétima arte, e tem influências, familiares ou não, dos mais diversos gêneros e escolas. É votante internacional do Globo de Ouro e faz parte da Abraccine – Associação Brasileira de Críticos de Cinema, Critics Choice Association, OFCS – Online Film Critics Society e das Elviras – Coletivo de Mulheres Críticas de Cinema.
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