- Gênero: Drama, Policial
- Direção: Frank Spano
- Roteiro: Frank Spano, Pedro García Ríos
- Elenco: Luis Fernandez, María Cecilia Sánchez, Roberto Birindelli, Ana Maria Perez, Ramiro Meneses, Alex O'Dogherty, Mimi Lazzo, Robert O'Neill Jr.
- Duração: 89 minutos
-
Veja online:
Em agosto, o circuito exibidor recebeu Muti e alguns colegas ressaltaram a ousadia de lançar nos cinemas um exemplar ‘trash’ de cinema, que também deveríamos ter espaço para esse recorte cinematográfico, e o quanto benéfico seria ao público encontrar traços inéditos em qualidade. Bom, não sei se concordo exatamente, tendo nossa malha tão menor espaço do que caberia, ainda nos ocuparmos de filmes que chafurdem com tanta precisão no mau gosto. Estreia dessa semana, Pessoas Humanas segue tal exemplo à risca e não deixa nada a desejar à filmografia do infame George Gallo. Mas o resultado novamente é uma dúvida, tendo em vista que estamos no meio de um debate sobre cota de tela inclusive.
Para deixar ainda mais complexo, Pessoas Humanas é co-produção brasileira (junto com o Panamá e a Espanha), o que não mostra nossa realidade atual. Cadastrado como uma produção de 2018, o filme é dirigido por Frank Spano, que ganhou um prêmio por sua estreia na direção, Hora Menos. O que é estranho a ser observado aqui é a busca por um sentido coletivo, na narrativa, na realização, na criação dessa obra, e não encontrar. Ao contrário do que se pensa, um filme desprovido de qualidades não é sinônimo de cinema ‘trash’; o segundo exemplar segue uma ideia proposital, de busca por estética, de até um certo visagismo de tendências barrocas e bizarras. O primeiro caso é apenas algo vazio, como disse realmente desprovido de predicados; aqui, estamos diante do meio do caminho.
Apesar do tema até ser relevante e atual, o tráfico de órgãos mais frontalmente que viria a esconder o tráfico de crianças, o resultado é inexplicável. Qualquer que seja a motivação para o que vemos, ele é desconhecido e deve ser levado para o além com seus perpetradores. Na nossa frente, temos um personagem que foi uma criança traficada e acabou entrando no mesmo esquema que o vitimou ao trabalhar para seu “pai”. Ele terá de voltar até sua terra em busca de um órgão compatível com alguém que pagou muito bem para tal nos EUA, e por lá reencontra seu passado, com o qual ele precisa acertar as contas. Com uma premissa dessas, seria até fácil realizar um filme que chamasse atenção, e Pessoas Humanas chama, embora pelos motivos errados.
Tudo tem uma ideia amadora de concepção, desde a direção, até a captação das imagens, passando pelo desenvolvimento desse roteiro até chegar ao elenco. Se alguém dissesse que o filme é dirigido por Tommy Wiseau (o homem por trás de The Room) assinando com um pseudônimo, não seria difícil de acreditar. Esse é o arcabouço de Pessoas Humanas, a impressão de que tudo foi filmado com um material de baixa qualidade e não digitalizado, e estamos diante de uma encenação fake para tentar vender a ideia para uma banca de possíveis produtores. Como eles não vieram, lançaram essa filmagem bruta sem qualquer adição de melhorias, no material técnico ou no humano; na verdade, no elenco ainda conseguimos encontrar algum traço de esforço.
O que está em jogo, lá pela metade da projeção, é o nosso tempo. E aí voltamos a Muti, o filme inacreditável que Morgan Freeman estrelou e que aportou aqui mês passado. Traçando uma linha de compreensão, o filme de Gallo era um suspense que nos levava a pensar “vamos ver onde essa coisa vai chegar”, ainda que cada passo dessa viagem fosse trágica. Pessoas Humanas chega a um ponto tal de desinteresse, passando ao largo da ausência de qualidade vista em cada ponto, que não há mais retorno possível. Porque uma coisa é você entregar um filme ruim, e outra é você entregar um filme ruim que não interessa a ninguém, e ainda por cima é extremamente cansativo. Saudades de Anaconda, de Bohemian Rhapsody, de A Bolha… um filme assumidamente ruim ou um filme ruim divertido à beça em sua falta de noção, não tem preço. O tempo que Pessoas Humanas me levou também não.
Um grande momento
Não há