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The Kitchen

Cozinha morna

(The Kitchen , RUN, EUA, 2024)
Nota  
  • Gênero: Drama, Ficção Científica
  • Direção: Daniel Kaluuya, Kibwe Tavares
  • Roteiro: Daniel Kaluuya, Joe Murtaugh
  • Elenco: Kane Robinson, Jedaiah Bannerman, Hope Ikpoku Jnr, Henry Lawfull, Reuben Trizzy Nyamah, BackRoad Gee, Cristale
  • Duração: 100 minutos

Se existe alguma curiosidade em assistir a estreia de um ator na direção, imagina quando essa pessoa em questão acabou de ter seu maior momento na carreira. Daniel Kaluuya ganhou a maior parte dos prêmios do ano, Oscar inclusive, por seu feroz desempenho em Judas e o Messias Negro, um dos mais belos filmes lançados duramte a pandemia. Seu passo seguinte é sair da zona de conforto em absoluto, dirigindo uma ficção científica distópica chamada The Kitchen, que estreou recentemente na Netflix. Seu parceiro na função, Kibwe Tavares, também é um estreante e ambos entregam um filme desses ‘ambiciosos de Netflix’, que o canal estreia todo semestre um novo e igual. Isso quer dizer que o filme seja necessariamente ruim ou desinteressante? Não, mas não deixa de ser cansativo acompanhar a saga de Izi e Benji. 

O principal problema nem se deve exatamente à narrativa escolhida, que é um mais do mesmo honesto e com alguma bossa. Com um elenco de novos rostos adequados à força que o roteiro pede, The Kitchen não consegue criar um ritmo adequado ao que estamos assistindo. A trama não tem nada de complexa, mas o filme não consegue apresentá-la de maneira sedutora. Estamos diante de um quadro já visto em outras produções, que também não será a versão definitiva de algo. Diante de tal situação, era de se esperar que ao menos o filme não ficasse emperrado na tentativa de nos transportar para o que seus personagens sentem. Isso não acontece porque o filme não consegue criar liga no que está apresentando ao espectador, principalmente em sua primeira metade. 

A partir de algum momento, quando os protagonistas enfim precisam conviver, temos a impressão de que o filme acabou de iniciar e que assistimos a um imenso e desnecessário epílogo de uma estória. A montagem e o roteiro não foram nada felizes ao encadear os acontecimentos dessa forma, e a intenção parece ser, estranhamente, afastar o público do que está sendo contado. É muito difícil de conseguir criar liga com um ponto de partida que parece nunca partir de fato, se mantendo sempre em marcha muito lenta, apresentando e desenvolvendo personagens que não serão bem esclarecidos, para só então passar a atender aos motivos pelo qual o filme foi feito. Da metade para frente, ainda que continue sua edição pouco ágil, enfim encontramos coesão do roteiro. 

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The Kitchen, na essência, conta a história da criação de uma família disfuncional. Em mais um filme do momento onde, em resumo, estamos falando sobre pais e filhos e uma certa amargura por trás desse lugar (como O Mal que nos Habita e Moneyboys), o futuro em questão é apenas um pano de fundo para essa relação central. Sim, há a gentrificação, há o contexto político da exploração dos menos favorecidos, mas isso tudo não é uma preocupação genuína da produção. O que Kaluuya e Tavares querem se aprofundar é no encontro desses dois seres, um homem sem esperanças e um jovem que só vive por elas, tentando compreender emocionalmente que laços foram esses que os uniram. Pena que o filme demore tanto a decodificar esse interesse ao público. 

Apesar do elenco competente, é o olhar de Jedaiah Bannerman que arrebata desde sua primeira aparição. Não pela construção do que o compõe narrativamente e sim pelo instinto do jovem, temos um coração pulsando e pedindo atenção, com a qual nos importamos imediatamente. The Kitchen nunca chega aos pés do que ele constrói, e isso se dá por essas más escolhas a respeito do que contar e como contar. Ainda que engrene para um lugar de interesse, pode ser tarde para que algumas pessoas já tenham desistido do que está sendo contado. A culpa disso não é do espectador, mas desses erros de iniciante. As intenções boas são percebidas de cara, mas quando os pés e as mãos estão atrapalhados, o resultado é um filme cujos flashes se saem melhor que o conjunto. 

Um grande momento

Benji tenta falar, antes de dormir

Francisco Carbone

Jornalista, crítico de cinema por acaso, amante da sala escura por opção; um cara que não consegue se decidir entre Limite e "Os Saltimbancos Trapalhões", entre Sharon Stone e Marisa Paredes... porque escolheu o Cinema.
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