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Relatos Selvagens

(Relatos Selvajes, ARG/ESP, 2014)

Gênero
Direção: Damián Szifrón
Elenco: Ricardo Darín, Erica Rivas, Leonardo Sbaraglia, Oscar Martínez, Darío Grandinetti, Rita Cortese o Julieta Zylberberg, Nancy Duplaá, María Onetto, César Bordón, Germán de Silva, Osmar Núñez, María Marull, Walter Donado, Margarita Molfino, Diego Gentile
Roteiro: Damián Szifrón
Duração: 122 min.
Nota: 8 ★★★★★★★★☆☆

O ser humano é curioso. Adaptável a vários habitats, vive em grupo e afirma ser a única espécie animal dotada de inteligência. Consegue se comunicar por meio da fala e, dizem por aí, controlar seus instintos. Relatos Selvagens é uma observação desta exótica espécie animal.

O longa argentino começa, logo nos créditos, com uma sensacional relação entre seu objeto de estudo e a natureza selvagem. Indivíduos específicos, naturais e ambientados a seus meios são retratados e, diferente da afirmação, todos tentam, mas estão bem longe de controlar seus instintos. Principalmente quando quem fala mais alto é o desejo de vingança.

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Dividido em pequenas histórias, com protagonistas independentes, Relatos Selvagens é uma ode a esse sentimento de resposta/retaliação. Tem vingança de todos os gostos e espécies, desde trocos a traição conjugal até extermínio daqueles que presenciaram ou influenciaram uma vida de fracassos, passando por uma deliciosa resposta a agressões no trânsito.

São seis micro histórias distintas: Pasternak, Las ratas (as ratas), Bombita, El más fuerte (o mais forte), La propuesta (a proposta), Hasta que a muerte los separe (até que a morte os separe). Completas, elas não precisam de conexão para funcionar e contam com uma seleção eficiente na montagem.

Todas trazem acontecimentos ou desejos de acontecimentos cotidianos muito familiares a todos os seres da nossa espécie. Com a universalidade do tema e a identificação pronta, fica difícil resistir ao filme e não embarcar na composição de Damián Szifrón.

O tom escolhido pelo diretor é o humor sarcástico, o que funciona muito bem com a sucessão de cenas onde a violência da vingança impera. Não são raros os momentos em que a filmografia de dois cultuados diretores da atualidade, Pedro Almodovár – produtor do longa-metragem com seu irmão – e Quentin Tarantino, vem à lembrança.

Entre as gargalhadas involuntárias que tomam conta do público e alguns choques, o trabalho do elenco fica bem claro. O filme conta com a participação de Ricardo Darín, protagonista na sequência Bombinta e responsável por bons momentos como a cena da audiência. Além dele, muitos outros nomes chamam a atenção. É o caso de Erica Rivas e Diego Gentile, como os noivos surtados; Oscar Martínz e Germán de Silva, o pai e o caseiro, e Rita Cortese e César Bordón, como a cozinheira e o cliente. Além é claro da deliciosa, porém insana, cena protagonizada por Leonardo Sbaraglia e Walter Donado.

Indo mais além da diversão instantânea e muitas vezes vazia que vemos por aí, Relatos Selvagens consegue criar um vínculo com o público difícil de ver nos dias de hoje. Uma reflexão bastante ácida dos limites que separam a civilidade do que há de mais animalesco dentro de cada um de nós. Nada como observar para identificar cada um daqueles desejos.

Imperdível!

Um Grande Momento:
Pneu furado.

Links

IMDb [youtube]http://www.youtube.com/watch?v=dZWhQMx1SO4[/youtube]

Cecilia Barroso

Cecilia Barroso é jornalista cultural e crítica de cinema. Mãe do Digo e da Dani, essa tricolor das Laranjeiras convive desde muito cedo com a sétima arte, e tem influências, familiares ou não, dos mais diversos gêneros e escolas. É votante internacional do Globo de Ouro e faz parte da Abraccine – Associação Brasileira de Críticos de Cinema, Critics Choice Association, OFCS – Online Film Critics Society e das Elviras – Coletivo de Mulheres Críticas de Cinema.
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