Crítica | Catálogo

Quatro Amigas Numa Fria

Meninas geladas

(Quatro Amigas Numa Fria, BRA, 2022)
Nota  
  • Gênero: Comédia
  • Direção: Roberto Santucci
  • Roteiro: Paulo Cursino, Caio Gullane, Gabriel Lacerda, Taísa Lima, Juliana Soares, Sergio Virgilio
  • Elenco: Maria Flor, Fernanda Paes Leme, Micheli Machado, Priscila Assum, Marcos Veras, Charles Paraventi, Pablo Bellini, Babu Santana, Marcelo Saback
  • Duração: 146 minutos

Depois de um período afastado, Roberto Santucci entrega uma nova produção aos cinemas. Seu último trabalho, o irreconhecível No Gogó do Paulinho, fez com que mesmo seus detratores ficassem perplexos do lugar onde ele tinha chegado. Responsável por grande parte das fortunas arrecadadas em bilheterias cômicas nos últimos 10 anos no cinema nacional, a pandemia colocou mesmo ele em perspectiva diferente. Sua última produção chega aos cinemas, Quatro Amigas numa Fria, e mesmo que tenhamos visto esse tipo de filme – e exatamente esse filme – algumas muitas vezes antes, a comparação é quase obrigatória. É como se estivéssemos assistindo um náufrago encontrar um bote furado, arriscando mais uma vez ficar à deriva, mas com essa nova esperança fosse enfim possível retomar um ponto perdido. 

A dupla que Santucci forma com Paulo Cursino sempre deu muito certo, tanto nas bilheterias quanto diretamente com seu público final, que comprou sempre as estripolias que ambos desenvolveram no cinema. Para quem não liga os nomes às obras, estamos falando dos caras por trás das séries cinematográficas Até que a Sorte nos Separe, O Candidato Honesto, De Pernas pro Ar, e mais os solos Um Suburbano Sortudo e Tudo Bem no Natal que Vem, Os Farofeiros, todos imensos sucessos. Com melhores ou piores resultados, impossível negar que eles não façam algo que o público mais do que aprovou; juntos, provavelmente criaram uma parceria tão bem sucedida quanto quase infalível. Não tem como estranhar ainda estarem juntos, produzindo e tentando novos fenômenos.

Quatro Amigas Numa Fria
Buena Vista International/Warner Bros.

Dito isso, é interessante que Cursino esteja em parceria com Taisa Lima nos trabalhos de Quatro Amigas numa Fria, tendo em vista de que sua narrativa é absolutamente feminina, com questões referentes ao universo de jovens mulheres em cerca de perfis bem distintos, distribuídos entre personagens diferentes. Taisa aborda essas amigas do título sem julgar suas atitudes, sem abrir espaço para observações equivocadas quanto às escolhas que elas eventualmente façam durante a produção. Não faltam clichês no filme, e até essa porção politicamente correta têm sido muito veiculada (afinal, o contrário disso é atingir em cheio os grupos de discussão), ou seja, não esperemos alguma revolução oriunda dessa seara de filmes. A bem da verdade, o filme nunca nos engana; ele é o que é. 

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Dani, Karen, Lud e Josi já não são mais meninas, mas ainda conservam alguns dados de imaturidade que as fazem mais humanas, menos perfeitas – ok, ainda que estereotipadas. Dani sempre se imaginou regrada, deveria obedecer os papéis sociais que o seu entorno esperou dela mesma, e seguiu obedecendo suas normas, algumas até antiquadas; Karen é quase o oposto, uma mulher impulsiva e determinada e romper padrões, e não apenas de comportamento, mas principalmente emocionais; Lud é mãe e esposa, e é muito centrada nas escolhas que fez – ama os filhos e o marido, mas está em um momento da vida onde precisa reencontrar uma liberdade tolhida; Josi deixou os anos passarem presa a um ideal romântico que não faz mais sentido nem pra si, embora siga cega nessas convicções.

Quatro Amigas Numa Fria
Buena Vista International/Warner Bros.

Desse material poderia surgir uma obra mais ou menos reflexiva sobre tais temas, e sim, Quatro Amigas numa Fria até observa seu enredo sob uma ótica mais séria do que seria esperado de uma comédia popular nacional, mas ainda assim trata-se de um produto pensado nas massas, e não apenas das mulheres, embora sejam o foco. O trabalho de Santucci e Cursino é buscar o riso escangalhado, muitas vezes, a maioria das vezes, e embora seus trabalhos com Leandro Hassum e Ingrid Guimarães tenham resvalado em seriedade aqui e acolá, a pegada era nonsense na maior parte do tempo, e aqui não é muito diferente. A questão é que, com o humor, a piada precisa funcionar; se não funciona, o filme trava. E aqui, apesar do talento das quatro atrizes (onde todas tem momentos para brilhar), como comediantes o timing não funciona sempre. 

A culpa não é exclusivamente delas, ou na verdade é bem pouco delas. Quatro Amigas numa Fria, assim como toda comédia, precisaria de uma montagem genial para garantir que o humor estivesse em dia o tempo todo; de maneira geral, existem momentos e momentos. Há carisma, e há muita simpatia que o público vai alcançar fácil, principalmente envolvendo Micheli Machado e sua Lud. Mas, ainda que a presença de uma roteirista mulher possa ter trazido confiança e voz ao projeto, ainda assim a incorreção existe e está lá, à espreita. Com toda a preguiça que envolve o material, o saldo ainda assim se mostra positivo diante do que poderia ter sido apresentado, não passando de mais uma comédia popular assinada por Santucci, e bem longe do que ainda é seu melhor filme, Loucas pra Casar. Seguimos acreditando encontrar, um dia, um novo. 

Um grande momento
O desabafo de Lud com as amigas 

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Francisco Carbone

Jornalista, crítico de cinema por acaso, amante da sala escura por opção; um cara que não consegue se decidir entre Limite e "Os Saltimbancos Trapalhões", entre Sharon Stone e Marisa Paredes... porque escolheu o Cinema.
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