- Gênero: Comédia romântica
- Direção: Bruno Costa
- Roteiro: Bruno Costa
- Elenco: Chiris Gomes, Octavio Camargo, Gabi Grigolom
- Duração: 85 minutos
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Não é incomum que festivais de cinema promovam estranhezas em sua seleção, muito pelo contrário, encontrar obras sossegadas como O Ano em que o Frevo Não Foi pra Rua é muito mais fora dos padrões. O complexo é, muitas vezes, descobrir o avanço de discussão dentro de algo que o espectador imagina já conhecer, uma espécie de subversão diminuta. Não sei se era essa a intenção do diretor Bruno Costa com Nem Toda História de Amor Acaba em Morte, seu filme seguinte ao singelo Mirador, que encantou o circuito há dois anos atrás. Mas se alguém esperava uma repetição do cineasta, definitivamente não encontrou, e isso pra mim é o maior elogio que eu poderia fazer a uma realização ainda jovem, tentando encontrar comunicação com o espectador.
Tom e ritmo dão o diferencial do que poderia ser traçado como uma comédia romântica tradicional, ou um drama romântico mais comercial. No lugar da tradição, Costa investe em uma dinâmica particular de montagem para tirar seu filme de uma seara mais conhecida, e poder investigar seus protagonistas a partir de uma ótica menos fria. Os códigos que precisam ser acessados aqui não vão pela ordem que se espera a partir do que já conhecemos desses gêneros massificados pelo cinema estadunidense, que oferece parâmetros genéricos para qualquer experimentação possível desses lugares. O autor aqui utiliza de uma ironia pouco sutil para ir além de vestir seu casal protagonista, mas também imbuir seu próprio filme desses elementos, utilizando também aspectos circenses à obra.
Digo isso em relação ao trabalho de corpo e rosto de seus atores, e ao tom que a direção emprega na obra. Não trata-se de um título debochado, ou carregado de escárnio pelo que está contando, mas Nem Toda História de Amor Acaba em Morte tampouco se normatiza como algo traduzido dentro do naturalismo. Isso é uma colocação positiva que indica que seu autor tinha em mente algo que não se espera de histórias que interliguem seus personagens em dinâmicas pessoais. O resultado é uma obra que não pode ser lida com os olhos da normatividade vigente padronizada, porque seu campo de atuação muda as tintas que os personagens apresentam para o espectador.
Os trabalhos de Chiris Gomes e Octavio Camargo são uma pequena mostra da integração do projeto, porque partem deles essa sensação de que o filme acaba por abraçar muitas possibilidades. Eles, que são um casal na vida real, conseguem espelhar muito bem a proposta de Costa para uma assimilação longe da realidade, que não cabe apenas a eles, mas a muitas outras propostas. Existe um material apresentado ali que é híbrido, não um cartoon humano, ou alguma caricatura de relações reais. É a sutil deliberação para um campo menos esperado que provoca toda a revolução que Nem Toda História de Amor Acaba em Morte provoca, porque não está na coisa grande e gritada que se afasta do real, provocando o tal estranhamento. É exatamente por estar do lado do possível, mas adicionada a outra camada, que revela um novo ponto de vista.
É daí que surge Gabi Grigolom, atriz surda colocada não como um pivô emocional entre o casal, mas como uma adição àquela quebra de normalidade. Com seu universo demarcado, a Lola de Grigolom é o que o filme oferece de mais banal em cena, com seu grupo de teatro, sua filha CODA, seu ex-marido machista, e seus apertos frugais. Essa leitura é outro acerto do filme, porque Costa entende e nos convida a encontrar esse caminho possível através de uma realidade que o social ainda trata com preconceito. No fim das contas, tudo o que é comum e trivial, acaba vindo justamente da personagem de Grigolom, que vende espontaneidade e carisma em cena.
Ainda que Costa não acerte tanto quanto em seu longa anterior, é necessário pontuar como os desafios aqui eram maiores que em Mirador, exatamente o filme que Nem Toda História de Amor Acaba em Morte renega ser. As armadilhas aqui eram da ordem desse acerto entre a tonalidade pretendida e o alcance das mesmas, que nem sempre revelavam a totalidade da proposta. Mas não é todo dia que somos provocados dessa maneira de um título que poderia ter escolhido o sossego, e prefere sair dos trilhos para encontrar um público anestesiado. A indiferença não será conseguida aqui.
Um grande momento
A festa do grupo de teatro