Crítica | Streaming e VoD

Raw

(Grave, FRA/BEL/ITA, 2016)
Gênero
Direção: Julia Ducournau
Elenco: Garance Marillier, Ella Rumpf, Rabah Nait Oufella, Laurent Lucas, Joana Preiss, Marion Vernoux
Roteiro: Julia Ducournau
Duração: 99 min.
Nota: 7 ★★★★★★★☆☆☆

É muito comum filmes de terror assumirem-se como metáforas da vida. Com Raw, Grave no original, não é diferente. O longa-metragem, disponível na plataforma de streaming Netflix, conta a história de Justine, uma jovem que acabou de entrar na faculdade de veterinária onde a irmã mais velha já estudava e onde a mãe se formou. É lá que ela experimenta pela primeira vez carne animal, já que fora criada como vegetariana, e transforma-se em algo que não esperava.

O rito de passagem de Justine aparece na tela pintado por sangue e disfarçado de canibalismo, numa construção inusitada, original e impressionante. Ali, transfiguradas, estão as descobertas sexuais, a libertação, a transformação, medos e desejos comuns ao caos hormonal característico da idade.

A diretora Julia Ducournau trabalha bem a tensão e não poupa o espectador de cenas para lá de nojentas. Em contraste a quadros abertos e cores saturadas nas cenas de multidão, alguns closes chegam mesmo a causar engulhos em quem assiste ao filme. Sabendo disso, ela prolonga o tempo e estimula uma sensação de suspensão positiva para o longa.

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Além disso, o roteiro, escrito também por Ducournau, trata seus personagens com o respeito necessário para que o filme vá muito além de sustos gratuitos e o horror simples pelo sangue. Há toda uma preocupação com a construção de Justine e Alexia, com o que há de formação em cada uma dessas personalidades e toda uma dinâmica familiar que, mesmo fora da tela, pode ser percebida. A relação de ambas, com atenção à afirmação e posição no grupo, e conexões interpessoais também ganham o destaque necessário.

Há ainda uma abordagem muito próxima do que significa ser mulher e passar por essa fase, culminando em um toque de liberação sexual e empoderamento do corpo que acha em Ducournau alguém pronto para esta condução. O sexo, gratuito em muitas produções que flertam com o gore, aqui tem um papel fundamental na constituição da narrativa e nem por isso domina a história que conta.

E é assim que Raw marca o seu lugar no novo cinema de horror. Uma história interessante, inteligente e que tem muito a oferecer aos fãs do gênero.

Um Grande Momento:
O dedo.

Links

IMDb
https://www.youtube.com/watch?v=KExM6S-AxMY

Cecilia Barroso

Cecilia Barroso é jornalista cultural e crítica de cinema. Mãe do Digo e da Dani, essa tricolor das Laranjeiras convive desde muito cedo com a sétima arte, e tem influências, familiares ou não, dos mais diversos gêneros e escolas. É votante internacional do Globo de Ouro e faz parte da Abraccine – Associação Brasileira de Críticos de Cinema, Critics Choice Association, OFCS – Online Film Critics Society e das Elviras – Coletivo de Mulheres Críticas de Cinema.
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