- Gênero: Suspense
- Direção: Alejandro Montiel
- Roteiro: Florencia Etcheves, Alejandro Montiel, Mili Roque Pitt
- Elenco: Luisana Lopilato, Paulina García, Malena Narvay, Inés Estévez, Ariel Staltari, Mauricio Paniagua, Santiago Artemis, Manuel Ramos
- Duração: 115 minutos
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Um daqueles roteiros bem tradicionais, já realizados desde o cinema noir, está chegando à Netflix essa semana. Chama-se Retorno, é uma produção argentina cuja ambientação e tentativa de discussão modernas não escondem o fato de que já vimos essa história antes, desde os primórdios do cinema. Como já dito, todas as tramas já foram contadas, o que irá mudar pra frente é a subjetividade de cada olhar, o aprimoramento de suas questões, a urgência com que cada realizador irá tratar sua fúria interna na hora de expor sua visão. Então o que temos aqui é uma produção digamos, comportada ou segura, sobre um entrevero policial que envolve lutas de poder entre pessoas do alto da pirâmide que dominam os menos favorecidos, a justiça, o governo, e suas podridões particulares. Ou seja, nada de novo sob o sol.
Alejandro Montiel é um realizador experiente, já em seu décimo trabalho, e cuja capacidade está impressa no que é apresentado – imagens capturadas com esmero, um universo bem construído em crescendo, uma narrativa que seduz o espectador que busque o mais prosaico. Mas a demonstração de seus predicados não vão muito além do burocrático, ou de uma pegada que nunca arregimenta nada de muito surpreendente para outros cinéfilos mais exigentes. Sua estrutura busca o básico e entrega nada muito além do que, com a experiência que angariamos, já não esteja dentro do campo de compreensão. Em linhas gerais, Retorno é um título para quem está preguiçoso de frente para o catálogo da Netflix, sem muitas opções reluzentes e já tenha assistido a grande parte do seu acervo.
Há um clima de suspense que circunda todos os ambientes, mas que é esperado, já que uma jovem de origem modesta foi assassinada após a festa de uma grande família da sociedade local. Essa jovem tem raízes indígenas e faz parte de uma comunidade que pede independência dos desmandos dos poderosos, que insistem em manter rédea curta aos povos menos favorecidos. O problema é que o longa não apresenta nenhum dado inesperado diante do que já imaginávamos; não precisa ser muito sábio para adivinhar os passos posteriores de cada personagem, como eles se revelarão e em que armadilhas eventualmente cairão. A falta de ousadia e personalidade do título também não é o único problema de um filme que segue como uma montanha-russa, entre altos e baixos de qualidade.
A trilha sonora, por exemplo. Composta pela dupla Klauss e Lisandro, não apenas provoca um ruído ensurdecedor com qualquer tipo de bom gosto, também distrai o espectador do longa, por sempre enfatizar de maneira estridente suas intenções. É um trabalho óbvio no pior tipo de acepção da palavra, que prejudica um material que já prima pela repetição. Com a ajuda dessa trilha sonora no limite da histeria, Retorno não demora a assemelhar um exemplar de teledramaturgia mexicana dos anos 1990 – porque até as novelas hispânicas evoluíram, perdendo essa marcação enfática do drama. É um combo que não demora a causar atrito com suas imagens, mas que alcança a base de sua trama, igualmente televisiva.
O elenco, no entanto, é acima da média, e tem entre os destaques a dupla formada entre Luisana Lopilato e a sempre excelente Paulina García. Personagem-título original (Pipa), Lopilato tem entrega absurda em cena como a policial que visita a tia e cai na esparrela de ouvir sua súplica de investigar esse crime na cidadezinha. A tia é vivida por García, e juntas elas entregam a sobriedade que falta ao clima geral da produção, repleta de agudezas citadas. Inés Estévez está igualmente muito bem como a mulher que fará de tudo para defender os filhos, sua empáfia extrapola o texto e alcança o desejado. É um grupo de categoria, na grande maioria interessados em dar a Retorno muito mais intensidade do quanto é oferecido pelo resto dos profissionais ao seu dispor, incluindo direção e roteiristas. Tirando o elenco, ninguém entendeu que muito pode ser oferecido com o mínimo.
Um grande momento
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