- Gênero: Drama
- Direção: Céline Sciamma
- Roteiro: Céline Sciamma
- Elenco: Noémie Merlant, Adèle Haenel, Luàna Bajrami, Valeria Golino, Christel Baras, Armande Boulanger
- Duração: 121 minutos
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Céline Sciamma (Tomboy) tem um jeito muito especial de filmar o desejo e a paixão. Em seu filme Retrato de uma Jovem em Chamas chega ao topo desses sentimentos de maneira sutil e sem alarde, mas incisiva, firme. São detalhes, pequenos gestos, olhares prolongados captados pela câmera de Claire Mathon. Claire e Céline descobrem Marianne e Heloïse com a mesma atenção, curiosidade e fascínio que as duas personagens se desvendam uma a outra.
O longa se passa nos Século 18, em uma ilha onde a Condessa e sua filha, Heloïse, moram isoladas. Marianne, filha de um famoso retratista, é encarregada de fazer o retrato da herdeira para que seu futuro noivo a conheça sem que ela saiba. É assim que as duas se conhecem e que vemos a paixão nascer.
Sciamma se prende muito ao olhar de Marianne, a ela interessa não só aquilo que a pintora descobre e experimenta, mas como transmite isso, seja através da criação, em carvão ou tinta a óleo, ou na mudança de sua própria imagem. É um jogo bem interessante e inusitado. Quando se afasta, mesmo que ainda se aproveite desse lugar de descoberta do olhar, a diretora explora o ambiente e a força do feminino.
Elementos como a comunhão e proteção, ou sororidade, ocupam a tela na figura da jovem Sophie; a tradição e a maternidade vêm por meio da condessa, e há espaço ainda para rituais e congregação, para a força de todo um local dominado por mulheres. O único homem que vemos ali é o responsável pelo transporte, aquele que coloca e tira Marianne, trazendo um significado forte para a intromissão masculina.
Mas, embora olhe para tudo o que cerca Marianne e Heloïse, são as duas que mais interessam a Retrato de uma Jovem em Chamas, e Sciamma se entrega a esse amor sem muito medo, sendo por vezes óbvia e até cafona demais ou mudando, inclusive, o ritmo do filme, dando a ele uma outra velocidade e potência. Coisas que só a paixão seria capaz de explicar.
Responsável também pelo roteiro, a diretora já parte de sua história sabendo que ela se posicionará como tragédia. Não à toa ela a relaciona com o mito de Orfeu, uma história que não vai acabar por escolha, mas que já era impossível por pré-determinação de uma sociedade que não saberia conviver com ela.
São muitas camadas e nuances a serem descobertas em Retrato de uma Garota em Chamas. Um filme que começa e termina em uma sala de aula, passa por várias épocas e circunda um mesmo sentimento, nos arrastando para dentro da beleza de sua história.
Um jogo de descobertas ao qual o espectador se entrega, como se fosse carregado pelas notas de um concerto de Vivaldi, outro acerto de Sciamma. Poderia ser qualquer um, mas aqui é pelo potente, forte e envolvente “Verão” de “As Quatro Estações” e nada casaria melhor com um sentimento tão arrebatador como o amor de Marianne e Heloïse.
Um Grande Momento:
No teatro.