- Gênero: Comédia
- Direção: Sebastián Silva
- Roteiro: Pedro Peirano, Sebastián Silva
- Elenco: Sebastián Silva, Catalina Saavedra, Jordan Firstman, Robert Keller, Gerardo Sierra, Juan Andrés Silva
- Duração: 109 minutos
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A arte, assim como o humor têm primordialmente que ser livres. É uma condição básica. Ao mesmo tempo, eles também têm que ser responsáveis. É uma condição essencial. Pode parecer contraditório, mas não é. Rotting in the Sun é um filme bem liberto, que quer brincar com as estruturas e peitar os padrões; divertido em sua forma e inventivo na distribuição da trama; mas escolhe um ponto de partida não só complexo como equivocado eticamente. Há coisas que não têm porque serem tratadas levianamente.
O longa conta a história de Sebastián, um alter ego do diretor Sebástian Silva, vivido por ele mesmo que passa seus deprimidos dias chapado de quetamina e pensando em um meio de se matar. Até que tira uma folga em uma praia de nudismo e conhece Jordan, um emocionado digital influencer cheio de vida que se apaixona por ele e decide que o quer em seu próximo projeto. A trama, que parecia focar na relação dos dois e na divergência de suas personalidades, porém, se transforma completamente.
Uma terceira figura, Vero, a empregada da casa do diretor vivida por uma ótima Catalina Saavedra (premiadíssima, inclusive em Sundance, por sua atuação em A Criada), até então coadjuvante, assume um papel de destaque e Rotting in the Sun vira uma coisa entre o policial e o suspense. Silva é habilidoso nesse transitar entre o caos do começo e a tensão, passando bem pelos momentos cômicos, em especial depois da virada, ou seja, quando a auto percepção deixa de ser um elemento importante à narrativa.
É algo que interessa, genuinamente, mas incomoda, porque tudo está baseado em uma mesma questão. O ponto de partida da trama é o desejo maior do primeiro protagonista e, por mais que isso se transforme ou não se concretize, muito se elabora sobre a ação depois, com definição e nomeação de método e execução. Há toda uma questão de culpa, sofrimento, tristeza, desilusão e depressão pela insinuação do ato. Há, inclusive, quem se aproveite disso, dentro e fora da narrativa, para criar fluxo ou mesmo fazer graça. E será que essa é uma coisa realmente que serve para isso?
A questão da saúde mental é muito delicada e o fazer arte vai além de produzir apenas para si e para os seus. Por mais que Rotting in the Sun tenha muitas qualidades, e ele tem, aquilo que se vê reverbera de maneira diferente em pessoas que tenham alguma sensibilidade ao tema. Fazer graça com isso é bem complicado. Uma pena que se desperdice a ótima história que surge com a tomada de protagonismo de Vero, toda a sua ansiedade, medo e a incomunicabilidade com Jordan.
Um grande momento
Subindo e descendo as escadas