Crítica | Streaming e VoD

S.W.A.T: Operação Escorpião

(S.W.A.T.: Under Siege, EUA, 2017)
Ação
Direção: Tony Giglio
Elenco: Sam Jaeger, Adrianne Palicki, Michael Jai White, Kyra Zagorsky, Ty Olsson, Olivia Cheng, Zahf Paroo
Roteiro: Jonas Barnes, Keith Domingue
Duração: 89 min.
Nota: 3 ★★★☆☆☆☆☆☆☆

Quem viveu os áureos tempos das vídeo locadoras e era frequentador assíduo (os chamados “ratos”), sabia que as maiores lojas mantinham em sua carta de lançamentos uma estante ocupada por filmes de “segunda linha” chamados de apoio, que completavam os pacotes das distribuidoras. Geralmente produções não exibidas nos cinemas, com elenco na grande maioria das vezes composta por desconhecidos e irrelevantes, onde às vezes se encontrava uma pérola escondida, mas geralmente abrigava produções de gosto duvidoso. Seria nesse lugar que se encontraria S.W.A.T.: Operação Escorpião, produção repleta de adrenalina pra quem procura válvula escapista de emoções baratas, disponível na Netflix.

Ainda pegando carona na produção de 2003 estrelada por Colin Farrell e Samuel L. Jackson que rendeu mais de 200 milhões de dólares arrecadados, a “franquia” sobrevive através de produções desse naipe de investimento e credibilidade, aqui ainda tentando pegar carona no clássico Assalto a 13ª DP, de John Carpenter. Como se trata de uma produção da Destination Films, que é uma subsidiária da Sony ligada à filmes de gênero de orçamento pequeno e ambições idem, mas que privilegia a exposição, o Operação Escorpião conta com uma certa crueza como aliada, no que resulta em ataques onde a hemoglobina não falta, real ou virtual.

Não há como negar o caráter divertido da produção, que entretém e prende a atenção até o final, ainda que nem um segundo de originalidade passeie pela tela. Seriados como CSI e Chicago PD apresentam semanalmente produções mais esmeradas, com roteiros mais elaborados e um trabalho de direção menos ordinário. Aqui, o programa não tenta enganar ninguém: trata-se de um passatempo que já assistimos incontáveis vezes, mas com um verniz que aqui está ausente. Ainda que distraia em sua ação burocrática, o filme não tinha muito a gastar com efeitos especiais, então eles são caprichados quando exigidos com veemência, mas na maior parte das vezes os tiros artificiais nos faz desprender do interesse.

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Apesar disso tudo, o calcanhar de Aquiles aqui é um roteiro que parece nunca se preocupar com sua estrutura básica, abrindo mão de qualquer coerência mínima. O filme não contar com uma trama surpreendente não é o problema maior, mas a forma como a produção lida com a obviedade construída para si. A cada nova investida em um solavanco que adiante a narrativa, diálogos dos mais pobres e expositivos se empilham, apenas reforçando estereótipos particulares e gerais. Como a base é toda criada em clichês, nenhuma ideia minimamente nova nasce durante todo o filme, que só tenta chegar ao fim acumulando o maior número de situações repetitivas possíveis, passando por algumas bem constrangedoras, como o final.

Além de tudo, o roteiro tenta forçar uma barra pra vender uma irmandade dentro daquela célula de justiça, mas o filme não consegue traduzir nada disso em imagens. O resultado são pessoas dizendo que não podem deixar outras pra trás e um pretenso sofrimento com as baixas do caminho que jamais conseguem ser traduzidas pelas imagens; é tudo no automático e na necessidade do roteiro em apontar isso, através de imagens vazias de sentimento ou significado. É tudo tão descolado da feitura que a entrada de uma trilha incidental triste durante uma morte só consegue soar patética, e muito engraçada. Com esse quadro, fica difícil inclusive cobrar uma postura do elenco, cujo nome mais brilhante é o de Michael Jai White, que já interpretou Mike Tyson numa produção pra TV e o Spawn da adaptação cinematográfica.

Apesar das ressalvas, da certeza de estar assistindo a uma produção que em nada mudará a sua vida, dos furos e inconsistências do roteiro (exemplo: a carga cobiçada precisa ser entregue salva, até o vilão ao final decidir e gritar “matem!”; o porque, jamais saberemos), é bem fácil embarcar na montanha russa de S.W.A.T: Operação Escorpião, mesmo sabendo que se trata de um brinquedo enferrujado de parque de beira de estrada. Sem desenvolver carisma nos personagens para justificar a emoção dos sacrifícios e os elos que unem uma corporação, o diretor Tony Giglio te dá uma descarga de emoção sem nada além. Todas as pontas soltas assim permanecerão, e ao menos uma demonstração de machismo (do filme) fica no ar na cena final. Já entendi, Giglio… melhor não aprofundar o pensamento, senão outras coisas virão à tona, né?

Um Grande Momento:
O primeiro bote do Escorpião.

Links

IMDb

Ver na Netflix

Francisco Carbone

Jornalista, crítico de cinema por acaso, amante da sala escura por opção; um cara que não consegue se decidir entre Limite e "Os Saltimbancos Trapalhões", entre Sharon Stone e Marisa Paredes... porque escolheu o Cinema.
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