- Gênero: Aventura
- Direção: Julius Avery
- Roteiro: Bragi F. Schut
- Elenco: Sylvester Stallone, Javon 'Wanna' Walton, Pilou Asbaek, Dascha Polanco, Sophia Tatum, Moises Arias, Jared Odrick, Martin Starr.
- Duração: 105 minutos
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O conceito de descobrir, conhecer e aprimorar a própria identidade, para entender onde sua presença fará diferença e de onde você constituirá sua força, é uma ideia que algo como o heroísmo precisa encontrar para fazer sentido. Quando muito direto, cada personagem sabe sua distinção no mundo e está ótimo; conhecer-se, seus predicados e fraquezas, é uma dádiva a qual poucos têm acesso absoluto. Narrativas menos óbvias olha para essa concepção com o intuito da desconstrução, vindo da gênese dessa ideia, e a aplica para reavaliar tais conceitos. Samaritano, estreia de hoje da Amazon Prime Video, tem uma conexão forte com Corpo Fechado, em sua tentativa de desconstruir o que entendemos sob as alcunhas de herói e vilão, ou ao menos um deles.
Sem o rebuscamento de M. Night Shyamalan, Julius Avery vem do reconhecimento de Operação Overlord para mais uma vez centralizar seus conceitos de fantástico. Os elementos que transformariam suas produções em algo extraordinário até estão em cena, mas é exatamente sobre esse lugar que seu interesse se abriga. O cineasta e seu roteirista Bragi F. Schut querem desmistificar o trabalho imagético em cima dessas figuras para humanizá-las, ainda mais do que a Marvel sonha em fazer. O resultado é um título ‘pé no chão’, às vezes até um pouco encardido, mas definitivamente cheio de vida. Seu autor acredita muito na história que está contando, e isso irradia do filme, indo do elenco e seus profissionais técnicos de qualquer ordem, chegando até o espectador.
A fantasia aqui está exposta na apresentação e na imaginação do jovem protagonista Sam, mas o filme não cede à tentação de personificar tais imagens. A partir do momento em que aqueles primeiros minutos se encerram onde somos apresentados a Samaritano e Nemesis e eles saem de cena, o filme se concentra em desenvolver uma representação realista das dificuldades econômicas atuais aos menos favorecidos. É nesse momento em que o filme se enquadra na ideia de revelar um conjunto empobrecido com seus desafios diários, além de seus personagens em questão. O ambiente não pediria, mas estão ali a brasa adormecida a respeito do desaparecimento dos seus tipos extraordinários, que são revividos diariamente por Sam.
A história passa a buscar pela presença de seu astro Sylvester Stallone um reflexo entre sua origem e situação e a de seu personagem. Ainda que não caia em um limbo, o ator não goza da mesma situação de até 20 anos atrás, onde ainda era disputado pela indústria e pelo público. Aos 76 anos, muita gente deve vê-lo como um velho, embora ele se locomova com agilidade. A base do filme, a respeito dos desdobramentos acerca da identidade, também se aplica ao protagonista: quem é o Stallone de hoje? Como ele se vê, e qual é o seu público, como ele aglutina todas essas questões em si. Isso enriquece a produção, dá estofo emocional aos seus protagonistas, e ajuda o espectador a não estar apenas na superfície dessas relações.
Não é exatamente a narrativa mais original e complexa a de Samaritano, tendo vista que vários momentos são reconhecíveis com sinceridade; porém, não é o caso de tentar entender porque se chegou nesse lugar, mas de aceitar o que é oferecido sem buscar por excelência estética. Essa mistura de crueza com efeitos especiais bastante convincentes deixa, por exemplo, Dupla Jornada ainda abaixo de suas expectativas. Aqui, as cenas de luta são igualmente exageradas, mas tudo funciona aqui nesse sentido, porque é criado personalidade ao todo. Parece haver uma consciência por sua simplicidade, sem jamais perder a personalidade, que embala esse filme muito saboroso e que é capaz de agradar todas as faixas etárias, até porque não é explicitada sua violência.
Não podemos deixar de pontuar a conexão entre Stallone e o pequeno Javon ‘Wanna’ Waltons, que interagem sempre com veracidade, e onde também vemos o carinho de ambos um pelo outro, consigo ver melhor que eu. Também o vilão vivido por Pilou Asbaek é inundado de psicologia, no qual o ator corresponde com camadas sempre enriquecedoras daquela figura ímpar. É um trabalho pronto para ser aprovado pelo espectador médio, mas cuja discussão a respeito de seus méritos narrativos nunca deixam de observar o cuidado que essa produção teve, de maneira generalizada. O exemplo máximo são as cenas de ação inspiradas, ponto alto da produção quando comparadas a algo porco como Dupla Jornada, que empolgam e justificam a presença do astro que as protagoniza. Aqui sim a força descomunal e exagerada desferida nos golpes aplicados é justificada: estamos falando de uma lenda, Stallone.
Um grande momento
O embate final entre Joe e Cyrus