Crítica | FestivalFestival do Rio

Madre

(Madre, ESP, FRA, 2019)
Nota  
  • Gênero: Drama
  • Direção: Rodrigo Sorogoyen
  • Roteiro: Isabel Peña, Rodrigo Sorogoyen
  • Elenco: Marta Nieto, Jules Porier, Alex Brendemühl, Anne Consigny, Frédéric Pierrot, Guillaume Arnault, Blanca Apilánez, Raúl Prieto
  • Duração: 129 minutos

Indicado ao Oscar 2019 de melhor curta-metragem de ficção, Madre é o registro de uma desesperadora ligação telefônica entre uma mãe espanhola e seu filho de seis anos que se vê sozinho em uma praia desconhecida na França, onde foi passear com o pai. A estatueta dourada não rolou, mas a produção acabou rendendo um longa-metragem, também chamado Madre e do mesmo diretor, Rodrigo Sorogoyen.

Dispensando a necessidade do público de ir em busca de um após ver o outro e simultaneamente aumentando a difusão da premiada produção de 2017, a estratégia adotada foi de expansão, com o curta sendo usado como sequência inicial e a história se desenvolvendo uma década mais tarde. Por esse motivo a duração acaba avançando para além das duas horas – um exagero considerando o conteúdo apresentado -, mas os cortes deveriam ter ocorrido na segunda parte, pois a abertura de aproximadamente 20 minutos é sem dúvidas e de longe a melhor parte do filme, espetacular.

Madre (2019)
Divulgação

Rodrigo busca repetir na parte inédita a estrutura de gradação dramática do prólogo, que começa como uma conversa corriqueira entre mãe e filha sobre namoradinhos e vira praticamente um conto de terror. Dez anos depois do acontecido, uma abatida Elena (Marta Nieto) encontra-se parada no tempo, desconectada e ainda esperando reencontrar o filho no litoral francês, quando o adolescente Jean (Jules Porier) atrai sua atenção. O confinamento do apartamento e da impotência dão lugar a um universo de possibilidades ao ar livre. Sua presença enquanto resposta à ausência do passado tem como frase de ordem o “por que não?”.

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Chamarei de desejo de mãe o sentimento que passa a guiar os atos de Elena referentes ao garoto, esforços de proximidade pontuados por planos detalhes luxuriosos que visam o estabelecimento de um estado de confusão. Um relacionamento calcado na dubiedade que funciona na troca de olhares zelosos (por parte dela) vs o interesse sexual (por parte dele), mas é tão improvável de tomar o caminho que toma que a imagem é inclusive por fim resguardada, como um vespeiro geneticamente modificado temido pelo próprio criador.

A fantasia masculina é um problema do filme. Apesar dos esforços de Nieto, Madre parece não ter consciência da brutalidade que efetua mostrando Elena basicamente como um joguete de homens que praticam diversos estilos de manipulação, para dizer o mínimo. A subida de tom do longa se dá na insistência de que Elena é la loca e podemos concluir que o trauma do luto materno é um mar revolto à noite, sem iluminação para rapazes.

Um Grande Momento:
A ligação inicial.

[Festival do Rio 2019]

Taiani Mendes

Crítica de cinema, escritora, poeta de quinta, roteirista e estudante de História da Arte. Também é carioca, tricolor e muito viciada em filmes e algumas séries dos anos 90/00.
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