- Gênero: Comédia
- Direção: Aki Kaurismäki
- Roteiro: Aki Kaurismäki
- Elenco: Alma Pöysti, Jussi Vatanen, Janne Hyytiäinen, Martti Suosalo, Alina Tomnikov
- Duração: 81 minutos
-
Veja online:
Dizem que não há nada melhor do que um melodrama. É verdade, mas um melodrama de Aki Kaurismäki, recheado de significado, vai muito mais longe. Folhas de Outono, com a banal história de amor de duas pessoas comuns, Ansa e Holappa, que se encontram por acaso em uma noite em um karaokê, tem tudo o que o gênero pede, mas tem muito, muito mais.
Há doçura no modo como o diretor fala desses personagens, mas há crueza em como retrata suas vidas submetidas à lógica opressora do mercado que descarta os seres humanos. Tudo é característico de seu cinema, tanto em forma quanto em conteúdo. Há a crítica social, a busca por esses indivíduos que vagam por aquele universo e sua solidão, e um humor muito particular que transforma a jornada.
Folhas de Outono seria como o quarto filme na Trilogia do Proletariado, seguindo Sombras no Paraíso, Ariel e A Garota da Fábrica de Caixa de Fósforos. Ao retratar a discrepância de uma sociedade que se reconhece mundialmente em um lugar de distinção, é na identificação de suas realidades que os protagonistas se encontram e se desencontram tantas vezes, em uma relação que transcende a amorosa.
Em seu entorno, outras criaturas igualmente afetadas pelo estado das coisas. Uma delas se destaca, amigo de Holappa, Huotari. Personagem divertido e cheio de tiradas inspiradas, ele se enquadra no sistema, mas tem o sonho de ser descoberto e virar uma grande estrela mesmo sem nenhuma chance de que isso aconteça, na melhor alusão à dinâmica capitalista.
As referências cinematográficas são explícitas e estão por toda parte de Folhas de Outono. Kaurismäki brinca com elas e enriquece sua história de amor, porque ela nunca deixa de estar lá e nunca deixamos de torcer pelo casal vivido por Alma Pöysti e Jussi Vatanen. A atriz e o ator são tão precisos em suas caracterizações de contenção, desilusão e afeto que é difícil não se envolver com eles.
Com a disfarçada simplicidade de um melodrama qualquer, a desencontrada história cheia de percalços com toda a solidão e os traumas que nela têm influência; além do modo como Kaurismäki a conta trazendo o ambiente social inóspito que nisso interfere diretamente, faz de Folhas de Outono é um filme imperdível por sua complexidade.
Um grande momento
O telefone que se perde