- Gênero: Terror
- Direção: Parker Finn
- Roteiro: Parker Finn
- Elenco: Naomi Scott, Rosemarie DeWitt, Dylan Gelula, Peter Jacobson, Kyle Gallner, Lukas Gage, Ray Nicholson, Miles Gutierrez-Riley, Raúl Castillo, Drew Barrymore
- Duração: 122 minutos
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Há dois anos, Sorria tornou-se um fenômeno tão natural quanto inexplicável. Os filmes de terror tem facilidade de promover sucessos, porque geralmente tratam-se de títulos muito baratos, cujo retorno é facilitado por essas questões, e que têm um público cativo que consome seus lançamentos com frequência. O filme original era uma produção destinada originalmente para lançamento em streaming que, por conta de uma reformulação de estratégia que acabou surtindo efeito nas bilheterias. Os motivos são desconhecidos, porque seu diretor não era conhecido, igualmente seu elenco; o marketing muito bem feito é uma das respostas possíveis. Agora, estreia nos cinemas Sorria 2, com a pressão de não derrubar as expectativas de quem aprovou o primeiro, e de elevar o material original.
O capítulo anterior não passava de, nos melhores momentos, um material genérico já narrado em tantas outras produções, ainda que mantivesse um certo frescor em sua apresentação; nos piores, o filme carecia de falta de ritmo e de uma motivação menos inerte. Sorria 2 tinha todas as possibilidades de avançar qualitativamente, o que o faz com alguma facilidade, começando pela ideia de não precisar articular aqui uma história de origem. O autor Parker Finn acredita na popularidade de seu filme anterior, e se dá ao luxo de não precisar retomar qualquer detalhe que nos conecte ao filme anterior. Partindo do princípio de que temos uma nova personagem absorvida paulatinamente por uma espécie de maldição, o filme monta a dinâmica estética que vê sua narrativa como um apêndice da direção, e não o oposto.
O diretor Finn obviamente bebe das ideias e metáforas que o roteirista Finn apresenta, mas tem muito mais liberdade para criar, e um campo vasto para explorar com sua câmera. O filme já abre com um plano-sequência bastante inspirado, no melhor esquema “descobrir junto com a imagem”; ok, a essa altura, esse modelo de cena já esgarçou-se até não poder mais, porém o que vemos aqui, com tamanho detalhamento em cascata, precisa ser visto com olhos pacientes. A partir desse movimento, temos a sensação de que algo estará fora da curva, e temos razão em pensar assim. Quase em todas as cenas, Sorria 2 investe em uma apropriação do cenário, dos atores, e da proposta estética para criar um mundo cheio de nuances em seus muitos pontos de moldura.
O que arranha o resultado surpreendente que o diretor preparou advém de sua própria competência, e da certeza absoluta que ele tem dela. Isso é traduzido em tela não apenas pelos planos muito bem pensados, pelas soluções gráficas curiosas que complementam a narrativa, mas na repetição que ele propõe a muitas delas. Quando pensamos que alguma ação estará sendo impressa em Sorria 2, não nos preparamos para sua reprise, ou seja, para a retificação de uma ideia. Que fica sublinhada desse jeito, perdendo a sutileza. Ainda que possamos identificar nesse movimento uma espécie de comentário a respeito das características alucinógenas que envolvem o que estamos assistindo, o acerto que pode ser cometido nesse sentido, acaba se mostrando cansativo no geral – até porque o filme tem inacreditáveis (e desnecessárias) 2 horas de duração.
Logo, o que se ganha em mise-en-scène e elaboração de quadros, se perde na edição que não consegue estabelecer os limites que o filme deveria ter. Na inevitável comparação com a obra original, Sorria 2 habita o inexplorado universo das continuações (muito) superiores à primeira parte. Mas o resultado final se encaminhava para algo ainda superior, caso o filme não se apoiasse no cacoete de reprisar os olhares. Quando acerta, no entanto, a produção esbarra nos méritos incontáveis que 2024 promoveu em matéria de “horror”, até porque consegue conversar com alguns temas pesados e desagradáveis de forma respeitosa. Se a corda não esticasse tanto, seus predicados e a beleza estética de inúmeros momentos – como o ensaio geral de Skye, exasperante – criariam um exemplar memorável.
O que temos de mais próximo da perfeição é a interpretação cheia de camadas de Naomi Scott. Vinda de experiências inusitadas como ser a Jasmine do live-action de Aladdin, a moça é a síntese do que uma boa scream queen precisa ser, atribuindo muita profundidade ao que vemos. Se Finn é um esteta que consegue vender seus enquadramentos de modo eficaz, Scott é alma, o corpo e o coração de Sorria 2; é através de seu crescente desespero e da sua dicção que encontramos as porções estrela pop e vítima amedrontada em um mesmo espectro. A cena do acidente de carro e todas as suas múltiplas variações é um demonstrativo do trabalho conjunto entre autor e atriz, que enriquece um filme que não imaginávamos entregar tanto vigor.
Um grande momento
A discussão pré-acidente, e a forma angustiante com que isso é filmado