Comédia
Criador: Ryan O’Connell
Temporada: 1
Elenco: Ryan O’Connell, Jessica Hecht, Punam Patel, Marla Mindelle, Augustus Prew, Patrick Fabian
Duração média: 15 min.
Canal Netflix
Ser diferente é muito difícil. É ter que conviver com julgamentos, agressões, falta de tato, preconceitos (conscientes e inconscientes) que em geral nos leva para um lugar (mesmo que no imaginário, por crescermos sob olhos julgadores) de inaptos, menores, piores, perigosos, maus, perversos, condenados (até divinamente) e portadores de uma maldição que pode contaminar todo o resto puro e perfeito. Com tudo isso, é claro que o armário parece ser o lugar mais confortável e adequado para se viver. Special da Netflix é uma série sobre ARMÁRIO!
Baseada no livro “Especial” (2015) de Ryan O’Connell, a série de comédia conta como Ryan desperta para a auto-afirmação, arrumando um trabalho, amigos, experiências, parceiros, novo lar e novo significado dele para o mundo e para ele mesmo. Já de cara ele coloca na cabeça que se esconder de seus colegas de trabalho que tem paralisia cerebral, tornará sua vida mais fácil. Claro que o peso e a leveza deste “segredo” o ronda em cada capítulo.
Com o apoio da amiga Kim (Punam Patel), muita coisa começa a mudar em sua vida, porque ele percebe que ela vê tudo com muita naturalidade e sem julgamentos. É o que acontece com a maioria de nós, não é mesmo? Quando percebemos que ambientes e relações são seguras, amarras são soltas e parece que as coisas fluem melhor, só pelo simples fato de podermos ser nós mesmos com o que temos de bom, sem que nossas diferenças sejam protagonistas de nós. Emicida na música “AmarElo” aborda bem essa questão, vale ouvir alto à voz da Pabllo Vittar estes versos:
“Permita que eu fale, não as minhas cicatrizes
Elas são coadjuvantes, não, melhor, figurantes
Que nem devia tá aqui
Permita que eu fale, não as minhas cicatrizes
Tanta dor rouba nossa voz, sabe o que resta de nós?
Alvos passeando por aí
Permita que eu fale, não as minhas cicatrizes
Se isso é sobre vivência, me resumir à sobrevivência
É roubar o pouco de bom que vivi“
Karen Hayes (Jessica Hecht), mãe de Ryan, também tem seus armários. Sobrecarregada por dividir seu tempo em cuidados com sua mãe e o filho, tem todo um despertar para si que vai sendo trabalhado, mas não de fato resolvido, que deixa a trama ainda mais interessante. Seu pecado é cuidar e proteger demais, não tendo problema algum com a homossexualidade de Ryan, aliás, isto nunca vem ao caso em nenhum episódio.
Apesar de todo este fantasma que parece (e é mesmo) ser tão difícil, se livrar do armário é uma maneira de se libertar de todos estes medos e destas questões internas. Claro que cada um tem seu tempo, sua forma, e nenhum tem menor obrigação, mas fica aqui a dica e o apoio imediato. Conforme o Ryan foi percebendo que ser ele (em sua plenitude) não interferia em nada em seus novos desenhos, sonhos e conquistas, a sua leveza foi se tornando mais evidente.
Além de um benefício próprio, se libertar das amarras armariais é um ato de resistência e de generosidade. Usando uma reflexão Emicidiana, lutar diariamente para que nossa diferença seja o que nos torna melhores e não o que nos leva ao inferno, vindo à tona, no império que insiste em não nos levar a sério, mas que constantemente parece querer interferir para nos levar à lona, SER e SER FELIZ é um ato de revide.
À Bruna Bites, por nossos 3 anos de papel passado e por amar e mudar as coisas.
O melhor episódio
S01E08
Saindo do Armário.
Conheça a coluna Série em Cenas
Série em Cenas: Special
Special