- Gênero: Animação
- Direção: Aaron Horvath, Michael Jelenic
- Roteiro: Matthew Fogel
- Duração: 90 minutos
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Alguém ainda se lembra daquele Super Mario Bros. dos anos 90, live action com Bob Hoskins, John Leguizamo e Dennis Hopper pagando mico, em estética questionável, tentando naturalizar uma normalidade dentro de uma produção nascida do universo do videogame? Ok, quase ninguém lembra mesmo – ainda bem, e só a lembrança dessa tragédia deveria afastar o público de se encorajar a assistir esse Super Mario Bros. – O Filme, produção que deve enfiar o abril de 2023 no bolso. E o merecimento não vem apenas no apelo que trailer e stills já nos entregavam, mas da substância embutida em algo tão cheio de uma singeleza que só a pureza da infância pode dar conta. Algo está acontecendo de maior dentro do filme, e é bom atentar para os detalhes que podem não estar à primeira vista; como percebemos em boa parte da crítica, creio não estar nem na segunda. Mas olhe mais perto…
Primeiro de tudo, o tema do momento – e quando falo ‘momento’, quero dizer que ele já ultrapassou alguns bons pares de anos: o saudosismo. Talvez 8 entre 10 sucessos do cinema de hoje pegam carona no que o ser humano tem de mais precioso, que é a memória do que melhor lhe ofereceu a vida. Tudo que foi cultivado com delicadeza, ficou, e a resposta para isso está desde em Top Gun: Maverick até Nasce uma Estrela, passando por Era uma Vez… em Hollywood e os vindouros Dungeons & Dragons e Barbie; para onde olharmos, o passado está ali. A nostalgia sempre regeu muitas artes, vide as franquias e continuações infindáveis que parecem nunca esgotar uma fórmula que, no fundo, é puramente emocional; a diferença é que agora não apenas de continuações estão se servindo em matéria de formação de público, mas já parte dessa emoção o início do trajeto.
Corações de aço profundamente analíticos que escrevem para revistas-ensaio muito sérias podem até discorrer para essa obra usando correlações entre o mito de Platão e o emprego do formalismo na construção do roteiro; aqui nesse texto, o que vai rolar mesmo é sorriso arreganhado e olhos marejados. Se você conviveu por algum tempo, que seja, com os irmãos Mario e Luigi, dois encanadores descendentes de italianos sugados para uma terra fantástica de aventuras, sabe que não existe outra maneira de adentrar aqui. Sim, o roteiro de Matthew Fogel cumpre de forma prática as expectativas do que se esperaria do filme, mas não será má vontade não reparar que esse filme fala de auto aceitação e de como nossa relação com o mundo parte de traumas construídos dentro de casa?
Vejam bem, o vilão do filme em dado momento declara “agora que eu pensava que seria feliz…” – é bem sintomático que, independente da tal dominação universal que acerque todos os vilões dos de James Bond até Thanos, aqui seja declarado (e sentido, bem mais até) que o cara malvado só queria ser feliz. Parece infantil, mas essa é uma das qualidades de Super Mario Bros. – O Filme; com todo o amor que sentimos pelos clássicos da Pixar, eles não são infantis, e alguns passam longe disso inclusive. Aqui, temos uma animação que conversa com crianças e adultos, mas que não vê nenhum problema em dar atenção especial a valores que produção nenhuma está dando. No peito do crítico aqui, isso é visto com delicadeza e boa vontade.
Dito isso tudo, ou seja, mostrando que Super Mario Bros. – O Filme poderia ser vazio e escolhe não ser, é praticamente impossível se livrar da fofura que é todo o processo da descoberta do universo por Mario, e mesmo antecipadamente, mesmo em Nova York, onde o personagem é visto em família, com pais, tios, primos e até um rival particular. O gráfico utilizado aqui realça essas ideias de transformar todo o conceito em algo fabular, e é esse o espírito empregado, que mesmo assim não abre mão de nos surpreender positivamente. Os diretores Aaron Horvath e Michael Jelenic são jovens e empregam essa velocidade em um veículo que pede esse tratamento: quem já jogou ou mesmo assistiu o jogo alguma vez, sabe que as aventuras de Mario e Luigi são muito acrobáticas e ágeis, e tudo isso é empregado aqui, quase em clima de vertigem.
É lógico que estamos falando de um produto também industrial, produzido por um combo que une Universal, Illumination e Nintendo, ou seja, é um conglomerado de vendas. Isso inclui já apresentar ideias para próximas franquias, entregar muitas mais “fases” do que precisaria, e alcançar todos os motes possíveis dentro de uma primeira ideia. Lógico que as continuações virão, e existem ganchos para inúmeras, mas me pergunto se era necessário mesmo acessar tantas possibilidades assim e deixar de aproveitar detalhes com maior apropriação. Um exemplo é a sequência envolvendo os ‘karts’, que é espetacular em ideia e realização, mas me pergunto se não poderíamos ter esse aproveitamento maior num próximo volume. Parando bem pra pensar, saiu bem mais organizado e limpo do que um filme como Super Mario Bros. – O Filme poderia ter sido. E ainda com história pra contar, ou seja, ficamos no lucro.
E fica ainda cheio de alertas para os fãs xiitas, tais como são desenhadas e alinhavadas as sequências que inspiram as fases do jogo, desde a primeira por Nova York até a preparação para a batalha que a Princesa Peach monta para o nosso herói treinar. São nesses momentos que Super Mario Bros. – O Filme pega pela mão fãs adultos e crianças para levar a um lugar de nostalgia, ainda que esteja na condição do que Hollywood vai continuar vendendo nos próximos anos, com tantos sucessos ancorados no esquema. Não importa, se eles continuarem sendo entregues com tanta paixão quanto aqui.
Um grande momento
A corrida pela estrada arco-íris