(Taxi Driver, EUA, 1976)
A paranoia personalizada vagueia pelas madrugadas de Nova York, a cidade que nunca dorme, assim como o protagonista. Taxi Driver é uma obra de arte que resulta do acertado encontro de três artistas: na direção, vemos toda a facilidade em vagar pela violência e os transtornos sociopsicológicos; no roteiro alguém que vivencia a solidão suprema; em cena o trabalho irretocável de um ator que sabe exatamente aquilo que deve fazer. São eles: Martin Scorsese, Paul Schrader e Robert De Niro.
Apesar de amado pela industria, Scorsese é, de seus contemporâneos, aquele que sofreu mais restrições, talvez por ter sido tão fiel aos filmes que deseja realizar. Com o tempo, aprendeu a dança do mercado e passou a intercalar produções encomendadas àquelas que desejava produzir.
Embora tenha chamado a atenção com títulos anteriores, foi com Taxi Driver que solidificou seu nome. O modo como conseguiu traduzir a loucura das noites solitárias e pervertidas com o visual neon e a melancólica trilha sonora de Bernard Herrmann, ou como acompanha o despertar da violência, sendo expositivo, mas sem julgamentos, intercalando os reflexos da solidão e inabilidade social de forma audiovisual.
Mas o resultado depende, obviamente, do rico material produzido por Schrader, que no ápice de seu próprio desespero e vagar pelas noites, encontrou na representação uma forma de expurgo e criou, talvez, o seu mais importante personagem. Há camadas a serem descobertas, há mensagem por trás daquilo que se vê, sem didatismos ou obviedades.
Completando a obra-prima, está a construção do personagem com afinco e dedicação por De Niro, após a imersão nas noites como motorista de taxi e após um longo período de pesquisa com ex-combatentes. De Niro acabara de receber o Oscar por O Poderoso Chefão II e, com todo o seu método, constrói um Travis Bickle que nada lembra seu Vito Corleone.
É impossível manter-se alheio a toda aquilo que se vê na tela, ao modo como a história de Travis se desenvolve entre realidade e delírio, entre aquilo que de fato acontece e o modo como ele interpreta qualquer sinal que venha de outra pessoa. O jeito como se constrói a relação empática entre o espectador e o personagem, num misto de pena e repúdio, é impressionante.
Um filme obrigatório para todos.
Um Grande Momento
O telefonema.