Crítica | FestivalFestival do Rio

Terra das Cinzas

(Ceniza Negra, CRC, ARG, CHL, FRA, 2019)
Nota  
  • Gênero: Drama
  • Direção: Sofia Quiros
  • Roteiro: Sofia Quiros
  • Elenco: Smashleen Gutiérrez, Humberto Samuels, Hortensia Smith, Keha Brown
  • Duração: 82 minutos

Selva (Smashleen Gutiérrez) é uma menina costarriquenha que vive com o avô (Humberto Samuels) num casebre isolado numa região de floresta e praia. Ele encontra-se na reta final da vida e ela teme ficar sozinha, mas de certa forma frequentemente o está e ao mesmo tempo jamais. A menina tem sempre ao seu lado a natureza e os espíritos. Primeiro longa-metragem de Sofía Quirós Ubeda, Terra das Cinzas guarda vestígios de determinado estilo de cinema latino-americano contemporâneo pouco criativo na representação do tempo e do espaço (as nuvens no céu, o contraluz, a subexposição), porém encontra brilho próprio nas relações e na maneira como registra sentimentos até complexos de explicar em palavras.

Encantadora mistura de Rihanna com Tessa Thompson, Gutiérrez leva Selva da implicância ao cuidado, da petulância ao carinho e do pavor à firmeza sem jamais perder a ternura. Seja com as serpentes, o jovial fantasma da cúmplice mãe, o crush, as amigas de colégio, a “irritante” Elena (Hortensia Smith) ou o querido vovô – com quem as trocas são de uma sensibilidade raramente vista –, a protagonista é pura presença e como a selva em si tão potencialmente acolhedora quanto hostil; forte e vulnerável.

Terra das Cinzas
Divulgação

Na primeira cena, em que a garota acha uma cobra morta, já estão presentes os rumos do filme: o respeito à morte, a falta de medo e a convivência amigável com as sombras e todos os tipos de seres vivos. De cara notamos o vigor de Selva e nunca chegamos a duvidar se ela será ou não capaz de realizar o último desejo do avô – como ela no fundo também sabe o que acontecerá, precisando apenas de confirmação e aceitação.

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Acompanhando Selva em seu processo de tomada de consciência, o espectador tem a possibilidade de acessar conexões intrínsecas à humanidade, porém deixadas de lado pela correria, e repensar sua relação e atenção com tudo que se encontra ao redor e até consigo mesmo. Segura, Sofía conta uma história simples que envolve ações difíceis e situações incomuns de forma discretamente envolvente. Assombroso.

Um Grande Momento:
Reencontro nas sombras.

[Festival do Rio 2019]

Taiani Mendes

Crítica de cinema, escritora, poeta de quinta, roteirista e estudante de História da Arte. Também é carioca, tricolor e muito viciada em filmes e algumas séries dos anos 90/00.
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