- Gênero: Drama
- Direção: Lila Foster
- Roteiro: Lila Foster
- Elenco: Gabriela Correa, João Campos, Amora Inocêncio, Raissa Gregori, Paula Passos
- Duração: 20 minutos
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Existem algumas formas de observar o Três do título do filme de Lila Foster. Na primeira imagem do filme, dois se transformam rapidamente em três, e somos informados de uma dinâmica particular – que poderia batizar o título. Quando o ato se encerra, logo pela manhã, vemos uma nova configuração do três – agora, o jogo inverte e o que parecia ter uma significação, tem outra… e já não estamos mais falando exclusivamente do título. Entre uma ideia de trio e outra, a realidade começa a bater para o espectador: o desgaste zarpou na direção de um núcleo familiar. O que fazer quando ser três nos impede de ser um?
A protagonista, vivida por Gabriela Correa, demonstra de maneira sutil os códigos que Foster quer abarcar aqui. Não apontado logo de cara, precisamos conhecer essa mulher e sua realidade de maneira econômica, e aos poucos entender um dilema que ela talvez nem ouse confessar. Três tem uma angústia que não cabe somente às mulheres, mas é especialmente nelas que esses dados se agravam e alastram. Porque a maternidade é santificada, porque o papel considerado primordial à mulher é esse, e porque o desgaste de inúmeras frentes a serem enfrentadas cabe ao universo feminino. É exatamente essa figura dentro de um núcleo familiar que precisa desempenhar (perfeitamente) uma gama de papéis diariamente.
Do êxtase inicial, uma representação máxima do desejo de poder exercer uma verdade que não pode ser externalizada, essa protagonista caminha por Três como a pedir silenciosamente por ajuda. Essa é uma das sutilezas mais bem-vindas ao filme, centrar fogo em um momento inicial desse desgaste; ele está exposto ali para ser debatido, mas ele ainda irá tornar-se insuportável. O momento onde o filme a flagra são, talvez, os primeiros sintomas externos que ela apresenta de um mal social que é impedido de se manifestar pela própria sociedade. No futuro, serão essas cenas apontadas ao marido onde suas forças começavam a falhar, e os sinais já não cabiam mais dentro de si.
É bonito como Foster localiza seu jogo em um universo de aparente normalidade, com pitadas de perfeição; isso tudo para quem olha de fora, e distante. Três é um filme sobre um estado de ruptura que não se contenta mais em ser, apenas, porque também quer vibrar suas rachaduras. Em desempenhos notáveis por sua ideia naturalista, Correa e João Campos tem o entrosamento ideal para mostrar esse leque maior de informações, que se escondem em entrelinhas. Ela em especial se assemelha ao material comprado para a montagem de uma bomba, que será acionada nos momentos finais da produção. O naturalismo é um dos quadros mais complexos de serem acionados em audiovisual, porque ele depende da mistura de muitos elementos para se tornar crível.
Estamos então dentro desse quadro empolgante de credibilidade e frescor, porque Foster divide com o mundo uma peculiaridade sob a qual ainda se posicionam com reprovação. O lugar do esgotamento emocional não é uma primazia feminina, ainda mais quando tais mulheres também são mães. O trabalho de fotografia de Juliane Peixoto (colaboradora de vários curtas de Leonardo Mouramateus), por exemplo, posiciona Correa sob uma luz que parece se esvair com o tempo, mostrando de maneira afunilada o buraco que se abre para a personagem, de maneira gradativa. É uma produção repleta de mulheres – são quatro produtoras – falando de um incômodo que, se não é comum a todas, a empatia presente na realização de Três mostra qual a posição das envolvidas.
Um grande momento
O passeio de manhã