Crítica | Streaming e VoD

Tudo pela Noiva

Dois que não viram um

(Gorzko, gorzko!, POL, 2022)
Nota  
  • Gênero: Comédia romântica
  • Direção: Tomasz Konecki
  • Roteiro: Andrzej Golda, Martyna Skibinska
  • Elenco: Mateusz Kosciukiewicz, Rafal Zawierucha, Zofia Domalik, Agnieszka Wiedlocha, Edyta Olszówka, Marcin Perchuc, Kamil Szeptycki, Tomasz Sapryk, Emilia Krakowska
  • Duração: 101 minutos

Ao acompanhar esse Tudo pela Noiva, que já estreou na Netflix como um sucesso, é fácil imaginar que estamos diante de mais uma bobagem que o canal de streaming tem lançado com alguma frequência. Embora eu levante a questão dos títulos da plataforma (e das outras também) que merecem ter atenção, o grande volume de produções coloca o grau de expectativa sempre no lugar mediano certo. E sim, trata-se de uma comédia romântica vazia de maiores propósitos que não apenas passa o tempo descompromissadamente, daqueles bem esquecíveis e sem maiores complexidades. Estão os clichês expostos do casal que se ama mas precisa se estranhar a princípio, o garanhão que se achava invencível até cair do cavalo, e o casamento que precisa ser evitado em cima da hora. 

Tudo caminha a passos cansativos na produção polonesa dirigida por Tomasz Konecki até elementos surpresa entrarem em cena, e diminuírem ainda mais o material. Não que faltasse experiência ao diretor, que já tem mais de 20 anos de trabalhos na área, mas que ao menos aqui não consegue empregar nada significativo no resultado. Como se fosse um trabalho burocrático qualquer, vamos acompanhando aquela história sem muita criatividade que segue arrastada. Na conta de Konecki, não podemos colocar outras culpas que não a da falta de um ritmo mais condizente, que ainda realce características que o filme não necessariamente tem. É nas costas dos roteiristas que aí sim podemos atribuir tudo o que vai gradativamente piorando o que já estava longe da perfeição. 

Andrzej Golda e Martyna Skibinska são os responsáveis pela desgraça geral, mas Tudo pela Noiva mais parece um filme de produtor sem imaginação, e que apenas tem um contrato com a Netflix que precisa ser cumprido. Como o canal simplesmente está engolindo com farinha (e o público também) qualquer coisa que lhe fornecem, ficamos na expectativa de aparecer um Tudo de Nova, Mais uma Vez ou um Assombrosas, mas grande parte da programação é feita de Rainhas em Fuga e coisas assim. São títulos que mais se assemelham a perdas de tempo, mas aqui o enredo desanda com mais força exatamente porque a trama não se encerra na ciranda romântica encarada pelos irmãos Tomek e Janek, mas nos surpreende por preencher alguns espaços possíveis com uma subtrama policial inexplicável – e um pouco incompreensível. 

Apoie o Cenas
Tudo pela Noiva
Kino Świat

Quando já estamos acostumados que aquilo ali é o que tem pra hoje, que qualquer busca por algo a mais ficou com Deus, Tudo pela Noiva apresenta um tal de “mais”… e era melhor termos ficado com menos mesmo. Entra uma bandidagem em cena, é um tal de sequestro pra lá, pais mafiosos e corruptos pra cá, e o negócio que só parecia insosso, vai descendo rapidamente uma ladeira que nem precisava existir. Na ânsia de querer mais do que cumprir tabela e terminar da mesma maneira inofensiva que se desenvolvia até então, o filme simplesmente fica confuso e desnecessário, sem acrescentar qualquer ponto de qualidade para justificar. Lá pelas tantas, até um ‘efeito mãe do Stifler’ entra em cena, e o cardápio passa do sem graça para o agressivo. 

Apesar da figura feminina como uma das assinaturas do roteiro, não dá inclusive para passar o pano para tantos aspectos machistas em cena, a começar pela protagonista feminina que simplesmente não é protagonista. Explica-se: apesar de posicionada como tal, Ola não tem textura, apenas depois de meia hora de produção ela tem um quadro para chamar de seu independente ao resto do elenco, e suas relações são estabelecidas na base do achismo; pode ser isso ou aquilo, e seguimos assim. Tudo pela Noiva ainda termina querendo bancar uma voz de igualdade identidade sexual, que nunca vai além da boba – isso nos 5 minutos que tem para desenvolver essa vertente tirada da cartola. Mas se nem a narrativa inteira conseguiu ser desenvolvida a contento, imagina se uma última informação jogada aos leões conseguiria. 

Parabenizo os espectadores que conseguirem manter a paciência intacta ao longo da duração de Tudo pela Noiva, mas o sucesso do título justifica o fato de que existe sim público que não apenas assiste a produção como também aprecia. Não há química entre os casais protagonistas, e sobra a Rafal Zawierucha as tentativas de criar uma zona de interesse em cena. Como Janek, o irmão mais tímido, reservado e raivoso da dupla, o rapaz é o resquício de interesse em cena; suas capacidades como intérprete nem precisavam estar tão expostas assim pelo produto apresentado. Cabe a ele retirar do público o mínimo de simpatia de uma produção que, não satisfeita em ser descartável, foi lá tentar ser desconexo também.

Um grande momento

O assalto falso

Francisco Carbone

Jornalista, crítico de cinema por acaso, amante da sala escura por opção; um cara que não consegue se decidir entre Limite e "Os Saltimbancos Trapalhões", entre Sharon Stone e Marisa Paredes... porque escolheu o Cinema.
Assinar
Notificar
guest

Esse site utiliza o Akismet para reduzir spam. Aprenda como seus dados de comentários são processados.

0 Comentários
Inline Feedbacks
Ver comentário
Botão Voltar ao topo