Crítica | Catálogo

Tudo sob Descontrole

Excesso de simplicidade

(En roue libre, FRA, 2022)
Nota  
  • Gênero: Comédia, Drama
  • Direção: Didier Barcelo
  • Roteiro: Didier Barcelo, Marie Deshaires
  • Elenco: Marina Foïs, Benjamin Voisin, Jean-Charles Clichet, Albert Depy, Jean-Pierre Martins, Ariane Mourier
  • Duração: 85 minutos

A princípio, a sinopse de Tudo sob Descontrole é tão concentrada, que não imaginamos como sua narrativa irá muito além do simples que é apresentado. Quase como uma anedota, Louise tem uma crise de pânico dentro do próprio carro, e quando um jovem desajustado tenta roubá-lo, descobre que a mulher está lá há quase 24 horas, e juntos a dupla terá de conviver na aventura que é só dele. É só isso, e se procurarmos além, não espraia para muito além disso mesmo não; quase todo ambientado dentro do veículo, o filme tem uma agilidade que não acostumamos a ver fora dos filmes de ação franceses. Aos poucos, o espectador experimenta uma reflexão relacionada aos encontros, aos valores e à interconectividade em tempos virtuais. 

Por mais que tente esticar suas pernas, o filme escrito e dirigido por Didier Barcelo chega aos cinemas sem ir muito além dessa premissa. Tudo que os protagonistas acabam por encontrar e vivenciar não passa de uma desculpa para que eles mantenham o enredo em rota de movimentação. A cada novo encontro pela estrada (nem são tantos, e só um é duradouro), o que o filme reforça é que estamos diante de algo cuja simplicidade nem foi superada, e talvez nem fosse a intenção superar. Esse é um mérito inegável do que vemos, a coragem de manter-se fiel à seu registro extremamente focado, ao ponto de não parecer pra onde o filme fará algum sentido além do recorte inicial. 

A impressão é que seu pano de fundo, tão igualmente simplório sobre a mudança de status de seus protagonistas, também não passa de um subterfúgio para mantê-los exatamente onde estão, o tempo todo. Louise é uma mulher que claramente está aborrecida com uma vida que já a entedia faz muito tempo; Paul é um jovem que tenta apaziguar um vazio que restou após uma tragédia pessoal, cobrando uma dívida que a vida contraiu com ele. Tudo sob Descontrole é todo muito direto, sem encruzilhadas; se demoramos a receber alguma informação, é porque seus personagens ainda não tentaram consegui-la. Dessa forma, estamos sempre diante da verdade ou de algo cujo prazo de validade é bastante curto. 

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É um raro filme francês que não é necessariamente de gênero (nem comédia direito o filme é), mas que guarda um sentimento de liberdade com qualquer obrigação formal vigente. De maneira mais óbvia, é um passatempo agradável e sem contra indicações, mas que não está submerso a uma escola de proposta direta. Um filme que não se emburrece, ao mesmo tempo que não exige qualquer reflexão do espectador; apenas é uma sessão onde veremos um grupo de atores competentes interagir entre si para contar essa história banal sobre o tradicional encontro entre diferentes que os mudará internamente, e também a quem eles encontrarem. Há prazer em assistir ao filme, ao mesmo tempo em que nada de muito relevante está diante de nós. 

Centrado na figura dos ultra talentosos Marina Foïs (de A Fratura e Polissia) e Benjamin Voisin (de Verão de 85 e Ilusões Perdidas), Tudo sob Descontrole ainda conta com a participação excelente de Jean-Charles Clichet (de O Amores Dela) entre os que cruzam que os protagonistas. É a partir do encontro com esse psicólogo que o filme desenvolve um pouco mais seu novelo de potência curta, indo além na relação entre Louise e Paul. Mesmo que ainda soterrado pelo que já vimos, essa ligação se desconstrói com a simpatia de quem reencontra velhos amigos, e sabe que tudo na vida é passageiro, tristezas e alegrias inclusive, e temos mais é que aproveitar – e não esquecer – os encontros de verdade.

Um grande momento

Paul indaga Louise e David

Francisco Carbone

Jornalista, crítico de cinema por acaso, amante da sala escura por opção; um cara que não consegue se decidir entre Limite e "Os Saltimbancos Trapalhões", entre Sharon Stone e Marisa Paredes... porque escolheu o Cinema.
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