- Gênero: Aventura
- Direção: Lee Isaac Chung
- Roteiro: Mark L. Smith, Joseph Kosinski
- Elenco: Daisy Edgar-Jones, Glen Powell, Anthony Ramos, David Corenswet, Maura Tierney, Sasha Lane, Brandon Perea, Harry Haden-Patton, Daryl McCormack
- Duração: 120 minutos
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Produtores e distribuidores, às vezes, parecem ir longe demais na hora de ler as demandas do público. Como já dito em inúmeros textos nos últimos dois anos, é a nostalgia quem está dando as cartas em Hollywood, e a cada novo projeto anunciado, mais esse dado confirma sua validade. Mas quem poderia imaginar que Twister, filme de Jan De Bont que passa bem longe de ser lido como um clássico, poderia ter uma legião de fãs à sua espera? Pois tem: todas as previsões de bilheteria garantem que sua continuação/reboot, Twisters, terá uma abertura bem acima do que qualquer um poderia imaginar. Seja pela curiosidade com tal tema, seja por um resgate do cinema catástrofe, ou simplesmente pela força do que deve ser visto como uma marca, então temos essa estreia das mais curiosas do ano, e agora isso se deve ao resultado da empreitada.
Surpreendentemente dirigido por Lee Isaac Chung (para quem não está ligando o nome a pessoa, indicado ao Oscar por Minari), podemos dizer que Twisters se candidata ao título de surpresa de 2024. Quem poderia imaginar que esse projeto, feito com tanta vontade de faturar uma grana alta, iria além dos seus propósitos iniciais? Ao custo de “módicos” 200 milhões de dólares, o filme vai exatamente no rastro de seu intento, mas o faz sem a tão conhecida burocracia hollywoodiana, que estamos cada vez mais saturados de conhecer. Isso significa que o produto entregue pode até ser gourmetizado, mas jamais falta-lhe uma espécie de charme que nos conecta a tudo que está em cena. A atmosfera certa, o clima certo e principalmente um bom desenho de personagens, transforma o que estamos vendo.
Creio que o fato do filme ter coprodução da Amblin Entertainment ajude um bocado nesse processo. Porque vejo as figuras de Steven Spielberg e companhia (a despeito do longevo envolvimento com algo tão mequetrefe quanto a franquia Transformers – que melhorou e muito, diga-se) como um elo perdido com uma diversão mais genuína, com relevos mais bem alinhavados, com um apreço por uma artesania mais burilada. Está tudo muito bem ajustado em Twisters, a um ponto que a partir da metade, o espectador ficará incrédulo e passará a cobrar mais resultados do que está vendo. E não há qualquer problema nisso, tendo em vista que o filme entrega o que se espera e talvez chegue além. Em uma época onde tudo parece ser resolvido por uma marca, quando ainda guardamos a lembrança da Marvel entregando qualquer coisa e as pessoas se considerando satisfeitas, é salutar que algo assim esteja retomando seu lugar.
É também da sensibilidade de Chung que o filme mostra os laços que se fortalecem durante a projeção, ou de alguns que foram perdidos para as tragédias. Sem parecer forçado, os personagens de Twisters (ao menos o núcleo central) demonstra estar em cena com a motivação certa: contar da melhor forma possível aquela história. Se as situações não se importam de mostrar o lugar comum do roteiro, ou se alguns tipos se caracterizam de maneira óbvia, esse não é exatamente o lugar onde o requinte do filme viria à tona. É o sabor do que é visto, é a verossimilhança do que se expõe ainda que clichê, é o alto grau de sedução que o filme contempla que fazem a qualidade do todo. São os elementos unitários que contribuem para uma construção coletiva fora dos padrões habituais que temos visto.
Ainda que no original os efeitos especiais fossem a estrela da produção e aqui continuem impressionando, e Twisters não tenha as ferramentas para manter a situação ainda mais mecânica, o que vemos tem uma superfície tátil que ajuda o espectador a embarcar na proposta, e entender o drama por trás dos eventos. Quando os tornados dão a tônica do momento, o filme conta com um material marcante, mas é justamente após as suas passagens que tudo é amplificado, ao vermos o rastro de destruição que os verdadeiros protagonistas deixam. O filme ainda referencia mais uma vez O Mágico de Oz e sempre contextualiza a tragédia a partir de um ponto de vista oposto, tornando cada cena ainda mais aguda, como o epílogo.
Levando o clímax para dentro de um cinema e mostrando uma quebra de quarta parede imagética muito bonita quando a tela de projeção ganha vida, Twisters ainda azeita seu insuspeito triângulo amoroso até o final, e monta um quadro realista em torno das relações humanas. Vividos por Daisy Edgar-Jones, Glen Powell e Anthony Ramos, o roteiro não avança nada do que vemos, e sim deixa as situações fluírem de maneira natural, sem precisar gritar o que precisa ser feito ou dito. Esse é mais um detalhe que mostra uma produção que não está interessada em seguir uma ordem vigente, e assim entrega a peça de entretenimento mais regular possível. Dentro do que é oferecido hoje por Hollywood, filmes como Bad Boys: Até o Fim, Um Tira da Pesada 4 e esse aqui são joias de tratamento especial, e Chung consegue um polimento ainda maior à sua estreia entre os gigantes.
Um grande momento: A primeira passagem do tornado