Crítica | Outras metragens

Um Corpo Feminino

(Um Corpo Feminino, BRA, 2018)
Documentário
Direção: Thais Fernandes
Roteiro: Thais Fernandes
Duração: 20 min.
Nota: 7 ★★★★★★★☆☆☆

O corpo feminino e suas questões. Algo que seria simples para mulheres discorrerem sobre, não é? Não, não é. É difícil olhar para si mesmo, mais ainda se por tantos séculos esse corpo foi visto de acordo com os anseios e determinações de seres que não somos nós. Entre cartelas que destacam sempre a masculinidade do substantivo, mulheres expõem e buscam definições pessoais. Convidadas a responder, encontram suas certezas e dúvidas e discorrem sobre elas.

As perguntas são as mesmas para mulheres adultas, idosas, adolescentes, trans e travestis. As respostas variam, mas nunca para muito além do que se espera. “É difícil falar da gente. Da mulher”, responde uma das entrevistadas resumindo a sensação de todas.

O documentário Um Corpo Feminino, de Thais Fernandes, segue a linha tradicional de um filme de entrevistas, encontrando inspiração no cinema de Eduardo Coutinho: posiciona suas personagens, explica a dinâmica e parte para seu objeto de pesquisa. Aos poucos fica clara na tela a intimidade conseguida com cada uma das participantes, que aceitam se expor para alcançar o objetivo.

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As falas das mulheres explicitam lugares-comuns tão combatidos quanto arraigados em nossa cultura. Está ali, dentro daquelas mulheres e de cada uma que não está na tela, definições construídas para diminuir, inferiorizar. O corpo que presta é o que se enquadra nos padrões de beleza, o comportamento tem que ser pensado levando-se em consideração a presença dos homens, a inferiorização do gênero em frases em desejos de ter outro sexo, a idealização do casamento, entre outros.

A diretora acerta ao mesclar opiniões de várias gerações e alcançar essa situação de imutabilidade. Embora exista toda um movimento, aceito e seguido por muitas das que falam, o que uma sociedade patriarcal incute dentro da gente não some de uma hora para a outra. Ou contrário, consegue se sustentar por muito tempo. Outro acerto está na inclusão de mulheres trans e travestis, que também vivem as mesmas questões no que se refere ao corpo. Ao lado do posicionamento político das mulheres travestis, presente no filme, há a profusão de sentimentos no momento em que a mulher ressignificada encontra o mundo.

Simples, Um Corpo Feminino alcança questões instigantes sobre a noção individual, mas ao mesmo tempo tão coletiva, de ser mulher. Mesmo que muito se tenha caminhado, há ainda muitas barreiras a serem derrubada. Mas o movimento é esse mesmo, e vai acontecer.

Um Grande Momento:
Virgem Maria.

Cecilia Barroso

Cecilia Barroso é jornalista cultural e crítica de cinema. Mãe do Digo e da Dani, essa tricolor das Laranjeiras convive desde muito cedo com a sétima arte, e tem influências, familiares ou não, dos mais diversos gêneros e escolas. É votante internacional do Globo de Ouro e faz parte da Abraccine – Associação Brasileira de Críticos de Cinema, Critics Choice Association, OFCS – Online Film Critics Society e das Elviras – Coletivo de Mulheres Críticas de Cinema.
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