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Um Milagre Inesperado

O play consciente

(Penguin Bloom, AUS, EUA, 2020)
Nota  
  • Gênero: Drama
  • Direção: Glendyn Ivin
  • Roteiro: Shaun Grant, Harry Cripps, Samantha Strauss
  • Elenco: Naomi Watts, Griffin Murray-Johnston, Andrew Lincoln, Essi Murray-Johnston, Felix Cameron, Abe Clifford-Barr, Jacki Weaver
  • Duração: 95 minutos

Tem filmes que já dão todas as pistas de sua intenção. Um Milagre Inesperado é um desses. Ele é daqueles que tem um combo de avisos de que você vai precisar de pelo menos um lencinho para começar a assistir: tem a palavra “milagre” no título, é baseado em uma história real e tem crianças e um animal em sua trama. E se isso ainda não foi o bastante para convencer, tem Naomi Watts (O Impossível) como protagonista depois de sofrer um acidente em férias com a família na Tailândia.

O longa, assinado por Glendyn Ivin e baseado no livro de Cameron Bloom e Bradley Trevor Greive, conta a história da surfista australiana Sam Bloom, mãe de três crianças pequenas, amante do mar e com uma vida superativa, que, aos 32 anos, viu sua vida mudar completamente após a viagem. Se a história é emocionante, o filme é honesto ao assumir sua intenção sentimental. Com roteiro de Shaun Grant, Harry Cripps e colaboração de Samantha Strauss, o diretor entrega a narração a Noah, primogênito da protagonista. Só o fato de vê-la pelos olhos do filho já aumenta a carga dramática, assim como cria outras camadas para sentimentos como ausência, remorso e admiração.

Um Milagre Inesperado

Ainda que carregada de drama, é a narração do jovem que dá liberdade para que a história daquela família seja contada de maneira fluida. Nada que seja muito elaborado ou inédito, visto que o formato é para lá de batido no cinema, mas que não deixa de ser funcional. O filme opta por transitar entre passado e presente, o que tem inúmeras vantagens na hora de estabelecer vínculos ou justificar relações. É uma escolha que funciona também para a compreensão do que se passa com Sam e, aqui, discretamente, a direção consegue dar passos além do óbvio, quando contrasta em um mesmo tempo o sol australiano e a escuridão que vai tomando conta da personagem.

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Porém, Um Milagre Inesperado não é exatamente um filme que está preocupado em deixar marcas estéticas profundas. Tem, sim, seus momentos, alguns originais, outros não tanto, como as inserções oníricas ou alegóricas, mas é no melodrama que aposta as suas fichas e isso fica muito evidente quando Pin entra em cena. Ainda que a trama continue sendo pontuada por intenções de estilo aqui e ali, é o tom de drama familiar, com passagens muito simples, baseadas em conflitos de roteiro básicos e úteis, que domina.

Tudo o que se vê, todos os eventos, diálogos, trilha e iluminação têm uma função e Ivin sabe trabalhar muito bem com isso. Mesmo que manipulador, o diretor consegue fazer com que o espectador não se incomode de passar mais tempo com aquela família e vai se aproveitando de laços com uma história que já era fácil por si. Ainda que por alguns momentos se perca, a força de alguns elementos, como o animal ou a própria relação maternal, são o suficiente para trazer o público de volta.

Receita certa para o choro e a emoção, Um Milagre Inesperado conta uma história bem bonita, ainda que a encha com todas as notas e acordes possíveis para que fique ainda mais tocante. Porém, é daqueles filmes que ninguém vai poder dizer que foi enganado quando apertou o play, quem começa a assistir sabe exatamente onde vai chegar. Não é nada que vá ficar na cabeça de ninguém por muito tempo, mas que vai te deixar com o rosto molhado, isso vai.

Um grande momento
Territorialistas

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Cecilia Barroso

Cecilia Barroso é jornalista cultural e crítica de cinema. Mãe do Digo e da Dani, essa tricolor das Laranjeiras convive desde muito cedo com a sétima arte, e tem influências, familiares ou não, dos mais diversos gêneros e escolas. É votante internacional do Globo de Ouro e faz parte da Abraccine – Associação Brasileira de Críticos de Cinema, Critics Choice Association, OFCS – Online Film Critics Society e das Elviras – Coletivo de Mulheres Críticas de Cinema.
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