- Gênero: Drama
- Direção: Clark Johnson
- Roteiro: Garfield Lindsay Miller, Hilary Pryor, Maureen Dorey, Deborah Wilton
- Elenco: Christopher Walken, Roberta Maxwell, Christina Ricci, Zach Braff, Luke Kirby, Martin Donovan, Adam Beach, Andrea Del Campo, Shannon Guile, Zoe Fish
- Duração: 99 minutos
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Existem duas formas de fazer uma dessas produções “Davi vs Golias”, onde grandes corporações ameaçam a vida de um grupo de pessoas, geralmente já tendo causado mortes pelo caminho, e sempre terminando em grandes batalhas nos tribunais. Ou você rasga tudo de carisma, recheando o filme de grandes momentos de explosões de atores em performances extasiantes (Erin Brockovich, Norma Rae…), ou você vai pro campo oposto e investe na introspecção, retirando de momentos íntimos uma verdade inabalável (Dark Waters, O Veredicto…). Em ambos os casos, um grande diretor precisa comandar o espetáculo com muita habilidade. Uma Voz contra o Poder, estreia de hoje da Netflix, precisa lidar com outro tipo de costura para alcançar seus objetivos, que não passam da tentativa de reconstrução dos chavões do gênero.
Clark Johnson é um profissional com 30 anos dedicados às séries de tv, raras passagens pelo longa metragem, embora um deles tenha sido um sucesso de bilheteria (S.W.A.T.). Aqui nessa adaptação de eventos reais, o que ele parece mais interessado é em ilustrar a inspiradora história de Percy e Louise Schmeiser, casal de fazendeiros canadenses que travam uma batalha a respeito de patente de sementes com uma grande corporação interessada em vender pesticidas – ou seja, em disseminar o agronegócio e suas mazelas. Como nas produções com as quais encontra eco, o filme é uma amostra grátis dos infortúnios pelos quais passaram a família durante os anos em que travaram essa batalha e as consequências (sempre desagradáveis) de comprar uma briga com uma corporação que tenta comprar seus amigos com promessas fáceis, te fazendo cair em desgraça comunitária pelo caminho.
Por ter lidado tanto com a televisão, e por Uma Voz contra o Poder ter uma base tão vista repetidas vezes na história do cinema, Johnson não investe na criação de qualquer coisa que pareça minimamente nova. Dos desdobramentos do caso e das dificuldades que os protagonistas vão acumulando ao longo do processo, ou seja, a linha narrativa, até as ideias de realização, nada aponta para qualquer lado de ambição. Em seu lugar, um apanhado sem fim de burocracia aborrecida, com cada novo lance já tendo sido prevista com muita antecedência e sem qualquer respiro para quaisquer possibilidades estéticas que o diferenciem do lugar comum. Trata-se então de um produto para consumo de um público que não se interesse por invenção, apenas a tradução quase literal de outros tantos momentos cinematográficos, sem a força dramática que essas produções costumam ter.
No olho do furacão, está o grandioso Christopher Walken. Acompanhado de outros belos atores como Christina Ricci, Zach Braff e Adam Beach, o vencedor do Oscar por O Franco Atirador continua uma fortaleza e eclipsa qualquer um que se aproxime. Com uma química muito delicada com Roberta Maxwell, o veteraníssimo ator acaba sendo o motivo principal para não perder a fé em Uma Voz contra o Poder, já que ele representa o personagem principal com profunda humanidade, e uma dose de melancolia. Daqueles raros atores que entregam o máximo mesmo que o produto não esteja à sua altura, é das costas de Walken que o filme encontra um lugar de brilho que nenhum outro aspecto do filme consegue encontrar, em um daqueles casos de minúcia com o material encontrado que casa muito mais com o ator e o protagonista que com a produção, que não o merece.
Ao menos veloz em seu tratamento, Uma Voz contra o Poder repete clichês e seus tipos estão na berlinda de repetir tudo que já assistimos antes de relevante de obras afins, mas aqui, sem qualquer outra qualidade principal que não o ator que emprega corpo e alma ao titular da voz em questão. O abandono em que estão largados o casal central, que é gradativamente esquecido quando não interessa mais a novidade que representa seu caso, é parecida com a que o espectador sente durante seu desenrolar, preguiçoso e cheio de momentos que não nos interessa, tamanha a obviedade. Uma pena que o protagonismo tão raro para Walken venha em um produto tão mecanizado e sem traços de vigor.
Um grande momento
O discurso na Índia