- Gênero: Comédia, Terror
- Direção: Ariane Louis-Seize
- Roteiro: Christine Doyon, Ariane Louis-Seize
- Elenco: Sara Montpetit, Félix-Antoine Bénard, Steve Laplante, Sophie Cadieux, Noémie O'Farrell, Lilas-Rose Cantin, Arnaud Vachon, Marie Brassard
- Duração: 90 minutos
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Vem de um humor teatral conhecido o modo como se apresenta aquela vampirinha deslocada em meio a sua família esquisita, mas engraçada. A empolgação com a festa de aniversário, rito de passagem não-sabido, a paixão pelos presentes e a animação com que interage com a surpresa principal mostra aquilo que a afasta dos seus e será o seu grande problema com o mundo e com a própria sobrevivência. Sasha é uma adolescente que não se sente pertencente, que não cabe no lugar onde deveria. Mas qual adolescente se sente?
Com certeza, não Paul, um jovem que precisa encarar o bullying diariamente e não consegue se conectar com a mãe. É no encontro de inadequações que os dois caminhos se conectam e se estabelece o vínculo principal de Vampira Humanista Procura Suicida Voluntário. De título divertido, entre vontades e quebras de expectativas, o longa de Ariane Louis-Seize subverte o clássico personagem da literatura e do cinema, em apresentação e essência, e cria sua metáfora divertida para a mais confusa e complexa fase da vida.
Porém, é justamente aí que encontra o tom gótico que marca as narrativas míticas vinculadas ao universo criado por Bram Stoker. Ela vem dos elementos de uma modernidade geracional, onde, para além dos dramas comuns, a depressão por outros deslocamentos se mostra tão presente. Isso está nas cores, ou na ausência delas, na maquiagem carregada de Sasha, no toque do seu teclado e nas reuniões do grupo de apoio. A contradição também compõe o quadro geral. As roteiristas Christine Doyon e Louis-Seize tratam daquilo que é grave, mas sem nunca abandonar o humor.
São muitas as risadas provocadas pelas tentativas frustradas da dupla e pela família atrapalhada de vampiros que espera ver sua caçula finalmente se render a seus instintos e assumir o seu papel na cadeia alimentar. E, um respiro às avessas, com o apelo dramático da relação de Paul e sua mãe. São filhos que seguem o caminho oposto ao de seus pais, deixando viver quando se mata, ou querendo morrer quando se cuida para que não morra. Vampira Humanista Procura Suicida Voluntário poderia facilmente descambar para o exagero, de um ou de outro lado, mas encontra o equilíbrio.
A direção sabe que não precisa inventar, mas também não é acomodada e o filme conta com uma dupla de protagonistas que faz toda diferença. Além de muita química, Sara Montpetit (A Escolha de Maria) e Félix-Antoine Bénard (da série La faille) são atores conscientes, carismáticos e expressivos. Os dois estão acompanhados do sempre marcante Steve Laplante, o pai vampiro, dos ótimos Like the One I Used to Know e Babysitter; e de Noémie O’Farrell, a prima descolada, de Fabulosas, dona de ótimo timing cômico.
Surpreendente em sua aparente simplicidade, Vampira Humanista Procura Suicida Voluntário fala de coisas complexas sem deixar de ser leve e divertido, e sem abandonar a mitologia que abraça, se apropriando delas em sua alegoria. Um filme que nem prometia tanto, mas chega longe demais.
Um grande momento
A primeira caçada frustrada com a prima