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Vendo ou Alugo

(Vendo ou Alugo, BRA, 2013)

Comédia
Direção: Betse De Paula
Elenco: Marieta Severo, Nathália Timberg, Sílvia Buarque, Beatriz Morgana, Marcos Palmeira, André Mattos, Pedro Monteiro, Nizo Neto, Ilka Soares, Carmem Verônica, Daisy Lúcidi, Maria Assunção
Roteiro: Betse De Paula, Adriana Falcão, Maria Lucia Dahl, Júlia de Abreu, José Roberto Toreiro
Duração: 88 min.
Nota: 5 ★★★★★☆☆☆☆☆

Quatro gerações de mulheres vivem em um casarão antigo do Leme, bairro do Rio de Janeiro. Antes símbolo de sua riqueza, a mansão, agora caindo aos pedaços e cercada por uma favela, representa a decadência daquela família. Prestes a ir a leilão pelo não pagamento de impostos, o lugar precisa ser vendido nas próximas 24 horas. Esse é o resumo básico de Vendo ou Alugo, próxima comédia nacional a estrear nos cinemas brasileiros.

A matriarca desta família decadente é a embaixatriz Maria Eudóxia (Natália Timberg), que tenta fugir do fracasso financeiro bebendo e jogando pôquer com as antigas amigas da alta-sociedade. Sua filha, Maria Alice (Marieta Severo), responsável pela manutenção da casa, tenta arrumar dinheiro para pagar as dívidas com pequenos bicos, como a tradução de manuais de armas para os traficantes do morro vizinho ou a produção de docinhos eróticos para despedidas de solteiro, em sociedade com a empregada da casa. A família se completa com a hippie ambientalista Baby (Sílvia Buarque) e sua filha Madu (Beatriz Morgana), que se mantém graças à pensão que recebe do pai político corrupto e sonha em dar a volta ao mundo.

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As quatro mulheres são cercadas por outras figuras peculiares, como a empregada crente, o traficante gente boa, o menor malando, o pastor evangélico, o corretor de imóveis sequelado, o gringo equivocado e o grupo de amigas dondocas de Maria Eudóxia. Todos eles ficam presos na casa depois que a polícia invade o morro em uma manobra de pacificação.

Relembrando o tempo das chanchadas, quando filmes nacionais faziam rir com figuras tipicamente brasileiras e, por isso, de fácil identificação, e sem evitar momentos pastelão, Vendo ou Alugo é uma comédia que não se preocupa nem um pouco com piadas politicamente corretas e não se incomoda em ironizar a realidade atual do país.

Entre suas piadas, muitas pouco inspiradas, é verdade, estão questões importantes como a fábula das pacificações de favelas, a legalização da maconha, a relação entre empregados domésticos e seus empregadores, a proliferação de igrejas evangélicas, o turismo de favela, a chegada da terceira idade, a preocupação com as aparências e aquele deslumbre bobo com tudo o que é estrangeiro.

Tudo isso, porém, não é suficiente para esconder que falta liga ao filme, falta uma unidade cômica que faça com que todas as situações transcorram de maneira natural. Por vezes o que sobra é o humor pelo humor e uma incômoda impressão de colagem de esquetes que usam a mesma locação.

Ainda assim, o filme tem um grande trunfo: o elenco. Além da qualidade individual inquestionável da maioria, a integração entre os atores pode ser percebida facilmente, assim como o clima divertido do set de filmagem, que nem precisaria dos créditos finais para se comprovar.

Diferente das muitas comédias que vemos no cinema hoje em dia, Vendo ou Alugo tem vantagens em seus personagens familiares e no conteúdo relevante, que não ignora problemas sociais sérios, mas também não consegue resistir à facilidade.

Mas o filme acaba se identificando com uma das críticas que faz. É como se aquela mansão, com todas as figuras que estão lá dentro, tivesse sido pacificada e, depois de então, como por mágica, todos os seus problemas tivessem acabado. Como se alguma coisa fosse tão fácil e como se uma simples maquiagem pudesse convencer de uma nova realidade.

São problemas assim que diminuem a força de Vendo ou Alugo, um filme que tenta mostrar que as comédias não precisam ficar restritas ao besteirol para divertir e podem, sim, usar situações corriqueiras e conhecidas para fazer graça, sem precisar seguir formatos estrangeiros para isso. Só faltou fazer rir de verdade. Dava.

Um Grande Momento:
Oferecendo-se para o sacrifício para salvar as amigas tartarugas.

 

Vendo-ou-alugo_poster

Links

IMDb [youtube]http://www.youtube.com/watch?v=0AygWH8EMqM[/youtube]

Cecilia Barroso

Cecilia Barroso é jornalista cultural e crítica de cinema. Mãe do Digo e da Dani, essa tricolor das Laranjeiras convive desde muito cedo com a sétima arte, e tem influências, familiares ou não, dos mais diversos gêneros e escolas. É votante internacional do Globo de Ouro e faz parte da Abraccine – Associação Brasileira de Críticos de Cinema, Critics Choice Association, OFCS – Online Film Critics Society e das Elviras – Coletivo de Mulheres Críticas de Cinema.
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