- Gênero: Ação
- Direção: Andy Serkis
- Roteiro: Tom Hardy, Kelly Marcel
- Elenco: Tom Hardy, Woody Harrelson, Michelle Williams, Naomie Harris, Reid Scott, Stephen Graham, Peggy Lu, Sian Webber
- Duração: 97 minutos
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Em 2018, a Sony teve a brilhante ideia de lançar aos cinemas o filme solo que conta a história de um dos rivais do Peter Parker/Homem-Aranha que surge a partir do encontro entre o repórter Eddie Brock e o simbionte alienígena – somados, se tornam o assustador Venom. Agora chega aos cinemas Venom Carnificina, maior, mais absurdo e mais engraçado — mas será que funciona?
Nos quadrinhos da Marvel, tudo se origina no malfadado uniforme preto de origem alienígena que o “amigão da vizinhança” usa e o transforma. Mas apenas quatro anos depois dessa historinha é que o simbionte se une ao fracassado repórter Brock. O ano é 1992. Homem-Aranha vende como água e a presença de Venon nas histórias acrescenta muito ao trazer um oponente sádico e irônico. O traço do grande Todd McFarlane, em sua passagem pelas revistas do aracnídeo, foi molde para todos os efeitos envolvendo o simbionte e a composição de sua característica marcante: o corpo musculosamente desproporcional e a mandíbula grandiosa, repleta de dentes afiados.
O Venom fora do corpo de Brock é um show a parte, um alienígena mimado, esfomeado, galanteador e doido pra ficar famoso por comer a cabeça de gente que não presta e proteger a cidade. Servindo como melhor amigo e receptáculo, Tom Hardy repete o papel de Brock e parece bem mais encaixado na fórmula de comédia, sangue e piadas envolvendo cultura pop. Hardy inclusive, como Ryan Reynolds em Deadpool, assume a produção executiva e vai ainda além ao assinar o roteiro com Kelly Marcel nessa continuação. Ela, em entrevista para o Slate, inclusive mencionou como o ator/roteirista se dedicou a escrita e em todas as tomadas do filme: “Tom é uma força criativa com uma mente brilhante para criar ideias, então colaborar com ele na história de Venom – Tempo de Carnificina foi muito divertido e animador. Tudo parecia possível para esses personagens que a gente gosta cada vez mais.”
E haja momentos de DR entre Venom e Brock, com a oportuna intervenção da ex-namorada do segundo, Anne (Michelle Williams), que de tão admirada pela criatura passa a servir de mediadora nos conflitos, enquanto a impagável Miss Chen (Peggy Lu) intensifica a rivalidade entre os dois “amigos”. Para tornar o tom de Venom – Tempo de Carnificina um tico solene, colocando na gradação de um filme de ação e não só uma comédia gonzo, onde personagem/jornalista inclusive está fundido à ação e se torna parte na própria dinâmica da história, se consolida o arco de Cletus Kasady (Woody Harrelson).
Harrelson de peruca inclusive rouba as cenas com seu personagem, que já havia feito uma breve participação no primeiro filme, agora absolutamente dominando a atenção a cada close, totalmente carismático e transtornado, que ainda faz um par perfeito com a igualmente psicótica personagem de Naomi Harris – os dois evocam Bonnie & Clyde, o que vale até uma citação de um dos policiais mas mais ainda uma referência que está até no figurino a Assassinos por Natureza.
Protetor letal e leal
Somos tão sensíveis quanto Venom a sons altos e luzes em excesso piscantes mas pelo menos a experiência histriônica só dura 90 minutos em comparação com os mais de 130 minutos do filme de 2018. A mudança implicou ainda uma tomada de outra direção, com a saída de Ruben Fleisher (Zumbilândia) e a chegada de Andy Serkis (diretor de Mogli), que sabe muito de efeitos visuais e captura de movimentos como bem sabemos pelo seu currículo, mas que ainda engatinha na direção e a condição de aprendiz é visível em Venom – Tempo de Carnificina. Faltam enquadramentos mais sólidos e alguma inventividade na maneira que a trama se constitui, com o descompasso entre Venom e Brock ao passo em que Casidy foge e trama seu plano.
O desenho de som e a mixagem sonora propositalmente ruidosos incomodam em demasiado ao longo da projeção do filme e o esperado confronto entre o simbionte alienígena e seu “filho” Carnificina são um grande emaranhado de efeitos meio rebuscados, mal acabados e uma fotografia propositalmente escura para encobrir possíveis falhas técnicas. Mas mesmo que visualmente incomode em certas sequências esse Venom – Tempo de Carnificina diverte nas outras que não as de pancadaria; tem diálogos que dificilmente não serão sentidos ou provocarão risadas espontâneas, como a menção a Barry Manilow ou os desenhos do psicopata mal interpretados.
Na conclusão do filme e da percepção sobre o próprio, a sensação marcante é a de que foi algo nada melhorável mas tão histriônico que acabou sendo bom. Personagens que se preparam para entrar mais na linha do tempo do universo cinemático da Marvel a partir de um cruzamento com os acontecimentos que envolvem um certo cabeça de teia.
Mas ainda falando desse Carnificina, Harrelson faz bem sua parte, sendo algo entre um Hannibal Lecter e Ted Bundy com um quê do seu Mickey Knox — de longe fisgando mais a atenção do que o personagem mal acabado do incrível Riz Ahmed no primeiro filme; no prólogo, uma versão meio em ritmo de mambo do hino da melancolia “Love will tear us apart (again?)” sacramenta o bromance entre simbionte e hospedeiro.
Um grande momento
Discussão sobre as galinhas