Crítica | Outras metragens

We Were Meant To

Pronto para voar

(We Were Meant To, EUA, 2022)
Nota  
  • Gênero: Ficção
  • Direção: Tari Wariebi
  • Roteiro: Christina Kingsleigh Licud, Tari Wariebi
  • Elenco: Tim Johnson Jr., Luke Tennie, Sylvester Powell, Jordan-Amanda Hall, Amin Joseph, Karimah Westbrook
  • Duração: 27 minutos

Chega uma hora em que os meninos ganham asas para voar, mas nem todos podem usá-las. We Were Meant To é uma fábula doída sobre a exclusão racial e social, ambas sempre tão atreladas uma à outra. Com sua penugem e as asas vistosas diante do espelho, Akil se sente incrível como o super-herói que está em sua parede, mas vive em uma sociedade que tolhe suas possibilidades. 

As asas são a representação da capacidade de sonhar com um futuro, qualquer que seja ele. Sob a falácia estatal da proteção, que burocratiza as esperanças – e deixa isso muito claro com repetidos avisos –, ele segue como um adolescente qualquer ao lado de seus amigos, flertando com a menina bonita da escola e tendo aquela dificuldade de comunicação comum em qualquer relação intergeracional. Sempre pratiquem o voo seguro, insistem de um lado os que querem afastar e de outro os que têm medo do que pode acontecer, pois o a dominação se estabele principalmente pelo medo.

Isso está em discursos, conversas e na realidade que Akil tem dentro de casa. Porque as asas também são a inocência, o acreditar naquilo que nunca existiu e dificilmente existirá em uma sociedade de espaços restritos e violência legitimada. E legitimada desde sempre, da estranha fruta cantada por Billie Holliday aos gritos por sua mãe de Tyre Nichols, da falta de ar de George Floyd aos capuzes brancos contra a Reconstrução. “Eles não precisam de uma razão para nos matar”, diz o desesperançoso para aquele que acredita nos sonhos e ainda tem asas.

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We Were Meant To é alegórico na construção do desejo, da inocência, mas é até literal quando fala da vigilância e da violência contra um grupo específico, do modo como este é tratado como ameaça. Em frequente estigmatização e repressão, todos são mantidos controlados, apartados e excluídos. São jovens que não merecem ter um futuro diferente daquele que é pré-determinado e permitido. Sua verdade e desejos, sua vida, não interessam ou importam a ninguém. Eles não podem ousar voar, precisam permanecer no chão. 

Muito do filme está na expressiva atuação do jovem Tim Johnson Jr. como o protagonista. Com direção de Tari Wariebi, que também assina o roteiro ao lado de Christina Kingsleigh Licud, o curta capta bem a essência da fase retratada e a dureza de um sistema opressor. Transformando realidade em fantasia, acerta ao elaborar a mensagem que quer deixar aos que desviam o olhar e aos que sobrevivem, mais aos que sempre podem mudar a sua realidade, por mais que tentem impedí-los.

Um grande momento
O final

[19º HollyShorts Film Festival]

Cecilia Barroso

Cecilia Barroso é jornalista cultural e crítica de cinema. Mãe do Digo e da Dani, essa tricolor das Laranjeiras convive desde muito cedo com a sétima arte, e tem influências, familiares ou não, dos mais diversos gêneros e escolas. É votante internacional do Globo de Ouro e faz parte da Abraccine – Associação Brasileira de Críticos de Cinema, Critics Choice Association, OFCS – Online Film Critics Society e das Elviras – Coletivo de Mulheres Críticas de Cinema.
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