Crítica | Outras metragens

Virago

(Virago, EST, 2019)

  • Gênero: Ficção
  • Direção: Kerli Kirch Schneider
  • Roteiro: Kerli Kirch Schneider
  • Elenco: Marje Metsur, Hilje Murel, Anneli Rahkema, Tiina Tauraite, Juhan Ulfsak
  • Duração: 15 minutos
  • Nota:

Em latim, virago era o nome que davam às grandes heroínas mitológicas. Esse é o nome da cidade fictícia criada por Kerli Kirch Schneider. O que se vê na tela é uma vila camponesa e a ironia já define o tom e a intenção do filme. Lá mulheres fazem o trabalho das mulheres – tudo – e os homens fazem trabalho de homens – as olham trabalhar. 

Se a ambientação deve muito à narração em off, não falta todo um trabalho de arte para complementá-la. Com algumas elipses, em pouco tempo já se percebe a dinâmica social. A câmera curiosa de Mart Ratassepp faz um bom trabalho de exploração e instiga a curiosidade de quem assiste ao curta. 

Virago (2019)

A forma, porém, não se demora e a ruptura é muito bem determinada. O caminho que se pensava estar tomando vira outro. Embora o humor se mantenha, com bastante competência, a relação entre os personagens muda e o tempo passa a ser a dona da narrativa.

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Schneider é precisa no modo como estabelece o fio que conduz a trama de Virago. Em pinceladas rápidas em forma de flashbacks expõe o necessário – fazendo rir sem apelações – e constrói esse presente que está entre a impaciência e o medo de sua protagonista.

Virago (2019)

A história absurda e irreal, em sua inversão de papéis e na recolocação da fragilidade, faz uma boa metáfora do patriarcado e ironiza toda essa construção impregnada na sociedade moderna. Ela fala dessa tomada do poder, e do posicionamento social do homem, agora com prazo de validade, neste lugar de fragilidade que tanto oprime. 

Virago é um filme simples que ganha relevos e nuances nas mãos de uma diretora habilidosa com as imagens e as palavras. E que, fazendo rir, traz uma mensagem poderosa contra essa cristalização de definições e limites impostos pela desde sempre. No final, quando encerra seu filme, mostra que são todos humanos e era isso que deveria contar.

Um grande momento
“Você deu uma faca pra ele?”

[31º Curta Kinoforum]

Cecilia Barroso

Cecilia Barroso é jornalista cultural e crítica de cinema. Mãe do Digo e da Dani, essa tricolor das Laranjeiras convive desde muito cedo com a sétima arte, e tem influências, familiares ou não, dos mais diversos gêneros e escolas. É votante internacional do Globo de Ouro e faz parte da Abraccine – Associação Brasileira de Críticos de Cinema, Critics Choice Association, OFCS – Online Film Critics Society e das Elviras – Coletivo de Mulheres Críticas de Cinema.
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