- Gênero: Ação
- Direção: Kevin Lewis
- Roteiro: G.O. Parsons
- Elenco: Nicolas Cage, Emily Tosta, Beth Grant, Ric Reitz, Chris Warner, Kai Kadlec, Caylee Cowan, Jonathan Mercedes, Terayle Hill, Christian Delgrosso, David Sheftell, Jiri Stanek, Jessica Graves Davis
- Duração: 88 minutos
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Quando pensamos que Nicolas Cage não tem mais de onde tirar imaginação, somos surpreendidos mais uma vez. Depois de tentar matar os próprios filhos (Mãe e Pai), ir até o inferno literalmente para resgatar a mulher amada (Mandy) e lutar contra luzes e cores extraterrestres (A Cor que Caiu do Espaço), o outrora respeitado ator dramático decide continuar provando que sua atual carreira não tem limites. Em Willy’s Wonderland, em cartaz em VoD, embarca no mais surreal faroeste já feito – sim, ainda mais que o Rastro de Maldade, de S. Craig Zahler. Ok, podemos dizer que aqui o gênero está desconstruído até o talo e nem se configuraria mais, porém os códigos o posicionam como tal.
O eterno cowboy que vem de longe e age por conta própria em cidade do interior, acabando com malfeitores que são protegidos pelos poderosos locais, é revivido com brilho por Cage, que vive uma das fases mais criativas de sua carreira. Como abraçou o cinema B de forma irrestrita, nem sempre ao seu dispor tem roteiros e propostas tão absurdamente deliciosas à sua disposição. Geralmente sem costume de dizer “não”, o ator está em muitos filmes a cada temporada, a maioria descartável e até desprezível. Aqui é o caso oposto; como o pistoleiro solitário moderno nessa subversão do gênero, Cage se aproveita da imagem que já construiu para brincar, e divertir a todos.
Trocando a atmosfera empoeirada e lamacenta dos cenários que John Wayne tão bem conhecia por uma espécie de casa de festas infantis amaldiçoada, Willy’s Wonderland mistura os símbolos do faroeste tradicional com aquela narrativa sobre parques assombrados palco de matanças adolescentes na linha do ‘Pague para Entrar, Reze para Sair’ de Tobe Hooper. Se a princípio os dois universos parecem excludentes, o roteiro de estreia do jovem ator G. O. Parsons consegue a façanha de coadunar essas duas experiências em uma, com graça, uma colherada de estranheza mas repleto de carinho pelos signos utilizados.
O diretor Kevin Lewis estava fora da ativa há 14 anos e não tem sequer um título expressivo na filmografia, mas aqui parece ter encontrado o tom híbrido acertado, ao embarcar na anarquia temática que o roteiro já propunha e não desperdiçar tempo para contar sua história. Sem firulas estéticas desnecessárias, o filme assim como Perfeição Insondável tem consciência de suas limitações orçamentárias, então realiza tudo na base da criatividade e da improvisação mecânica com toques digitais. Como o filme de Braden Duemmler, seu registro agudo cai ainda melhor aqui, em meio a bonecos assassinos de tamanho natural, e o obscuro de suas referências traduzem a cinefilia dos seus autores.
Como o cavaleiro sem nome, Cage remonta de uma maneira repleta de tiques e efusividade a um tipo que ele aprendeu com os irmãos Coen, pois é dali que oriunda suas inspirações para sua homenagem indireta ao genial Chuck Norris. Como uma máquina de matar animatrônicos, o dono de um Oscar por Despedida em Las Vegas grunhe e urra em cena – apenas. A ausência de diálogos reforça a imagem que o filme quer estabelecer entre ele e os clássicos sobre a construção do oeste americano, aqui devidamente subvertidos. Levando profundamente a sério seu lugar, Cage é o símbolo perfeito para uma produção destrambelhada narrativamente, mas que trata com muito zelo suas imagens.
Com uma construção tão minuciosa de personagem (os momentos onde ele se desliga da realidade ao soar do relógio para a pausa regada a PunchPop e fliperama), Willy’s Wonderland trata suas homenagens a duas vertentes cinematográficas com tanto respeito quanto avacalhação, justamente para com ela reforçar seu amor por cada um dos seus signos. Sua “carroça”, suas “armas”, seus códigos de conduta e de honra, cercam a produção de um cuidado raro mesmo a produções de vulto, e aqui essa dedicação estética a uma carpintaria tão avessa ao que acaba por mostrar deixa claro que Lewis merece que guardemos seu nome, e que não precisemos de mais 14 anos para acompanhar suas novas peripécias.
Um grande momento
A escolha de Hobson