- Gênero: Drama
- Direção: Lissette Feliciano
- Roteiro: Lissette Feliciano
- Elenco: Lorenza Izzo, Bryan Craig, Simu Liu, Chrissie Fit, Liza Weil, Steven Bauer, Alejandra Miranda, Cranston Johnson, Alessandra Torresani, Lincoln Bonilla, Shalim Ortiz, Liisa Cohen
- Duração: 84 minutos
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Ser mulher nesse mundo é olhar para frente e ver que ainda falta uma longa estrada a ser percorrida para chegar ao fim do caminho, mas olhar para trás é também perceber que alguns passos foram dados. Women Is Losers sabe disso e não tem nenhum problema em destacar, com sua história dos anos 1960, tudo o que está errado ainda nos dias de hoje. E faz isso logo de cara, ao quebrar a quarta parede, assumir a metalinguagem e falar diretamente com quem assiste ao filme sobre a representação das mulheres, da pouca representatividade na indústria e de questões que vão além disso.
A história é a de Celine, uma jovem hispano-americana que vive em San Francisco com seus pais. Seu cotidiano, como o de muitas mulheres de sua época — e não só deste tempo — é moldado pelo patriarcado. Em sua casa, aprende que o natural uma relação de marido e mulher é a subserviência e a violência doméstica, que o homem é o servidor e que a mulher precisa seguir todos os códigos para não ser desconsiderada. Na rua, está sujeita ao tratamento machista, seja ele de seu namorado ou de seu chefe, e recebe da sociedade, a condenação de seu desejo e a determinação do que deve fazer com seu corpo.
Ou seja, coloca na tela como as coisas eram há 60 anos. Eram ou são? Como são as coisas hoje em dia? Até que ponto a mulher tem que estar sempre provando o seu ponto, a sua capacidade, o seu valor para poder fazer algo? E quanto qualquer uma dessas coisas pelas quais Celine passa não são do cotidiano de várias nos dias de hoje? As atrizes Lorenza Izzo, Chrissie Fit, Liza Weil, Alejandra Miranda e Alessandra Torresani sabem bem o que é isso, com certeza, e lidam com o roteiro da também diretora do filme Lissette Feliciano com muita naturalidade.
Women Is Losers traz um tema pesado, mas encontra uma forma descontraída de trabalhá-lo quando opta pelo diálogo constante com o público, quebrando a quarta parede para comentários e contextualizações. Feliciano é habilidosa com o jogo e suas personagens simpáticas a ajudam na tarefa. Ela ainda tem momentos inspirados, principalmente na criação de algumas elipses, como na passagem de Celine à fase adulta. Por outro lado, há momentos em que se perde e se confunde com a quantidade de elementos e informações Mesmo que eles funcionem separadamente, nem todos conversam bem com o filme.
Outra questão está no roteiro. Como todas que aqui estão, a diretora não consegue estar imune a certas questões incutidas por todo o tempo e dedica tempo demais de seu filme à história de Celine e Mateo. Ao fazer isso, não percebe que traz uma culpabilização que reafirma a daquela opção tomada lá atrás no consultório do dentista, que ultrapassa o homem e aponta o dedo especificamente para a mulher e suas escolhas, pelo simples fato de fazê-las.Junto a isso, tem a contradição de fazer com que todos os homens daquela vida encontrem o arrependimento e, de certo modo, a redenção, pela saudade, pela paternidade ou pelas desculpas. É frustrante e também a comprovação de que o patriarcado está em tudo, até dentro daquelas que tentam genuinamente combatê-lo, porque esse é o sistema e assim ele foi criado: para perdurar. Como dizia Janis, “parece que eles sempre terminam no topo”.
Só que, a cada passo que se dê, a cada filme que se faça, a cada direito que se conquiste, mais perto se chega do final do caminho. Esse dia virá. Sigamos!
Um grande momento
O corredor