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Zarafa

(Zarafa, FRA/BEL, 2012)

Animação
Direção: Rémi Bezançon, Jean-Christophe Lie
Roteiro: Alexander Abela, Rémi Bezançon
Duração: 78 min.
Nota: 7 ★★★★★★★☆☆☆

O cinema infantil, principalmente a animação, vem sofrendo há algum tempo de uma certa pasteurização. Ainda que os temas variem, a preocupação com o uso de tecnologias avançadas para impressionar os pequenos é uma constante e, muitas vezes, supera o cuidado com o conteúdo. Muito dependentes do visual, as histórias também mudaram e assumiram um ritmo mais frenético e uma postura determinante, que deixa pouco espaço para a criatividade e a imaginação. É nesse universo homogêneo que estreia o completamente diferente Zarafa.

Muito bonito em seus traços e na variação de cores, esta animação em 2D conta a história de Zarafa, a primeira girafa da França, dada de presente ao Rei Charles X pelo paxá do Egito em troca de uma aliança contra os turcos. Defensor e amigo do animal, Maki é o protagonista desta história. Depois de fugir do traficante de escravos que destruiu a sua vila e sua família, ele é salvo pela mãe de Zarafa que é morta logo depois. O menino promete então que cuidará da pequena girafa e a trará de volta para casa.

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A viagem de Maki e Zarafa tem savanas africanas, deserto, pirâmides, alpes e passa pelo Cairo, Marselha e Paris. Entre muitos contratempos e passagens divertidas, as crianças (grandes e pequenas) vão se apegando aos personagens e se entregam à aventura. A estrutura narrativa facilita essa identificação. A história, contada sem pressa por um velho habitante do vilarejo para o seus netos, chega naturalmente e causa uma nostalgia boa, que não se incomoda nem com as intromissões por parte dos ouvintes, naturais em situações iguais.

Ainda que se complique com alguns personagens secundários que participam aleatoriamente da trama, o filme passa uma bela mensagem de vida e amizade, falando de amor, devoção e fidelidade, mas não evitando temas como frustração e perda. Além disso, aborda questões históricas e sociais importantes, como a colonização e a discriminação racial, expondo, até de maneira exagerada, a limitação de um povo que se achava tão superior, mas não entendia nada do resto do mundo.

O bom roteiro é valorizado com uma animação de primeira qualidade. A variedade de paisagens possibilita uma brincadeira divertida com a paleta de cores, tão ampla que poderia ser considerada mais de uma, e com elementos de grande poder gráfico, como neve, areia, fumaça e nuvens. Técnicas de desenho diferentes, usadas nas elipses de tempo, também agradam.

O filme é resultado da feliz parceria entre Rémi Bezançon, diretor de filmes como Um Evento Feliz, e Jean-Christophe Lie, supervisor de animação de As Bicicletas de Belleville. A experiência que faltava a Bezançon, que se apaixonou pela história assim que seu amigo Alexander Abela a contou e com ele escreveu o roteiro, sobrava em Lie, e vice-versa.

Zarafa é um filme lúdico e encantador. De maneira sutil e interessante fala de valores importantes na vida de qualquer um. Seu visual pode ser diferente, menos cheio de parafernálias e similaridades com a vida real, e sua história pode chegar de maneira mais calma, mas o resultado é tão forte e significativo que as crianças nem percebem.

Um Grande Momento:
Fugindo do acampamento.

Zarafa-poster

Links

IMDb [youtube]http://www.youtube.com/watch?v=gQzTUegMS8g[/youtube]

Cecilia Barroso

Cecilia Barroso é jornalista cultural e crítica de cinema. Mãe do Digo e da Dani, essa tricolor das Laranjeiras convive desde muito cedo com a sétima arte, e tem influências, familiares ou não, dos mais diversos gêneros e escolas. É votante internacional do Globo de Ouro e faz parte da Abraccine – Associação Brasileira de Críticos de Cinema, Critics Choice Association, OFCS – Online Film Critics Society e das Elviras – Coletivo de Mulheres Críticas de Cinema.
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