Crítica | CinemaCrítica | FestivalDestaque

BlackBerry

(BlackBerry, CAN, 2023)
Nota  
  • Gênero: Drama
  • Direção: Matt Johnson
  • Roteiro: Matt Johnson, Matthew Miller
  • Elenco: Jay Baruchel, Glenn Howerton, Matt Johnson, Cary Elwes, Saul Rubinek, Michael Ironside, Rich Sommer, SungWon Cho
  • Duração: 120 minutos

Hoje todo mundo desfila por aí com a internet no bolso, mandando emails e mensagens; com sua agenda integrada, atualizada, e ainda podendo fazer e receber ligações. Mas como tudo isso começou? Do seus pagers, dispositivos com teclados integrados que tinham como única função a torca de mensagens, aos primeiros smartphones com navegação na internet, a canadense BlackBerry – antigamente chamada Research in Motion (RIM) – dominou o mercado por bastante tempo. Até Steve Jobs chegar com sua tela multitouch e mudar tudo para sempre.

Esta história do sucesso e ocaso foi contada no livro “Losing the Signal: The Untold Story Behind the Extraordinary Rise and Spectacular Fall of BlackBerry”, de Jacquie McNish e Sean Silcoff, e agora é adaptada para o cinema. O filme de Matt Johnson, que leva apenas o nome do aparelho revolucionário criado pela dupla de nerds e sua turma, é diferente dos outros que retratam mudanças tecnológicas que marcaram a humanidade nas últimas décadas ou as figuras por trás delas. Primeiro pelo tom, pois embora haja drama, o humor domina a trama; depois por optar não se ater nem a tecnicidades – detalhes sobre os aparelhos ou a tecnologia – e nem mergulhar na vida e relacionamentos pessoais dos criadores.

BlackBerry
IFC Films

Há um interesse genuíno de Johnson em retratar aquela época e aquilo que estava por trás dos tais dispositivos. Além de dirigir, ele também interpreta Doug Fregin, parceiro do fundador da empresa Mike Lazaridis desde os tempos das primeiras invenções, o que demonstra uma intenção bem pessoal no projeto. Em BlackBerry estão tanto a ingenuidade e a paixão dos nerds que passam seus dias entre códigos, circuitos e sessões de filmes clássicos dos anos 1980 quanto as tentativas de crescimento nas negociação dos gananciosos executivos, aqui personificados em Jim Balsillie. Ele é a terceira peça da equação, aquela que nunca se encaixa direito, mas não se preocupa com isso. Suas intenções são outras e ele as alcança.

Apoie o Cenas

O filme opta pela estética documental que marcou um dos seriados cômicos de maior sucesso da atualidade, The Office. Aqui, os depoimentos dão lugar às inserções de imagens de arquivo, mas o conceito de construção de planos e movimentos de câmera é o mesmo. Porém, se no escritório de lá o envolvimento é rápido, em BlackBerry nem sempre estamos confortáveis com aquilo que estamos vendo. Demora um tempo até que nos ambientemos àquela realidade e nos conectemos com os personagens. É como se alguma coisa estivesse muito fora do lugar nos momentos de apresentação.

BlackBerry
IFC Films

Ainda assim, Jay Baruchel (na pele de Lazaridis), Glenn Howerton (como Balsillie) e Johnson acabam convencendo, mesmo com o estranhamento da maquiagem e penteado ou o distanciamento das primeiras cenas. E ainda que não que estejam no equilíbrio perfeito, já que Baruchel, por exemplo, nunca chegue no mesmo lugar que seus parceiros de cena, os três criam essa conexão com o espectador. Muito vem do texto, com seu humor e bons diálogos. Johnson também no roteiro, ao lado de Matthew Miller, aposta na agilidade e em tiradas inspiradas que vão falar alto aos viveram aquela época e dificilmente não vão provocar algumas risadas.

O longa vem de uma realidade que só parecia ser interessante quando analisada no campo industrial e econômico. Porém, aquilo que aparentava ter pouco material para uma adaptação cinematográfica foi bem aproveitado e acaba surpreendendo. A alternância de personas entre Lazaridis e Balsillie, que estão sempre sendo interrompidas por Doug numa outra frequência, é positiva. Assim como a intenção de criar um arco para a própria existência dos dispositivos, com seu nascimento sendo anunciado por Oprah Winfrey e o prenúncio de sua morte com a conhecida apresentação de Steve Jobs, projetada no telão da RIM. Sem dúvida, Blackberry é um jeito interessante de viajar pela história recente da tecnologia mobile, vendo mais de algo que chegou em um lugar onde não se esperava, de uma maneira bem diferente.

Um grande momento
O constrangimento da última reunião

Cecilia Barroso

Cecilia Barroso é jornalista cultural e crítica de cinema. Mãe do Digo e da Dani, essa tricolor das Laranjeiras convive desde muito cedo com a sétima arte, e tem influências, familiares ou não, dos mais diversos gêneros e escolas. É votante internacional do Globo de Ouro e faz parte da Abraccine – Associação Brasileira de Críticos de Cinema, Critics Choice Association, OFCS – Online Film Critics Society e das Elviras – Coletivo de Mulheres Críticas de Cinema.
Assinar
Notificar
guest

Esse site utiliza o Akismet para reduzir spam. Aprenda como seus dados de comentários são processados.

0 Comentários
Inline Feedbacks
Ver comentário
Botão Voltar ao topo