- Gênero: Documentário
- Direção: Casey Patterson
- Roteiro: Casey Patterson
- Duração: 102 minutos
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Cada um tem a sua história com Harry Potter. Algumas começam pelos filmes, outras pelos livros, mas é fato que poucos são os que nunca ouviram falar sobre o bruxinho de 11 anos que recebeu uma carta que mudaria sua vida ao apresentá-lo ao mundo da magia. A minha relação com esse universo começa pela polêmica: seria a série de livros que fez as crianças e adolescentes voltarem a ler um plágio de “Livros da Magia”, quadrinhos de Neil Gaiman? Lembro de comprar o livro e começar a ler em seguida, terminando-o no mesmo dia. Não tinha plágio, apesar de semelhanças com as HQs e com tantas obras de fantasia, mas tinha ali uma leitora impressionada com o tudo o que acabara de experienciar. J.K. Rowling sabia contar uma história, sabia prender nossa atenção. Eu tinha que contar aquilo para minha filha e tinha que saber o que acontecia a seguir.
A expectativa pelos livros, que nem sempre agradavam totalmente — mas eu já estava presa pelo gancho –, levou à curiosidade pela adaptação cinematográfica. Sabemos, obviamente, que além de a fantasia ter todo um apelo inegável, a força do marketing por trás da Escola de Magia de Hogwarts é incomparável. E lá fomos nós ao cinema, agora com minha filha tendo praticamente a idade de Harry, Hermione e Rony, e meu filho bem pequeno ainda. Várias questões? Várias questões! Mas o filme era delicioso. Uma daquelas aventuras fantásticas que põe brilhos nos olhos dos pequenos e sorriso nos rostos dos adultos. Tudo muito bem cuidado, efeitos incríveis e um elenco impressionante, com nomes como Richard Harris, Maggie Smith, Robbie Coltrane, Julie Walters, John Hurt, Richard Griffiths, John Cleese, Fiona Shaw e Alan Rickman. Entre eles, muitas crianças fofas e dedicadas.
Daí pra frente foram mais sete filmes, todos sucesso absoluto de bilheteria (assim como o relançamento do primeiro para comemorar o aniversário ano passado) como os livros. Harry Potter é uma série vista e revista até hoje, e que conversa igualmente com novas gerações, indo, talvez, além do poder marqueteiro e se apegando às características mais básicas da obra que conversam com todos: amizade e pertencimento; amadurecimento; o escolhido e a luta do bem contra o mal; e o universo mágico como metáfora. Aqui, vez por outra, está na televisão, escolhido por qualquer um dos três moradores da casa, em longas maratonas ou filmes específicos, na maioria das vezes O Prisioneiro de Azkaban ou O Enigma do Príncipe, mas pode ser outro. Há 20 anos.
E não é só a minha casa, mas essa relação com o mundo do bruxo ser tão universal e sua presença tão real em tantas as casas fez com que se justificasse a criação de um programa como 20 anos de Harry Potter: De Volta a Hogwarts. Há uma história construída, uma identificação e um carinho pelo universo. De certo modo, mesmo que visando alguns centavos ou milhares de dólares, fazer o programa era trazer a magia novamente para casa de todos aqueles que por muito tempo dedicaram seu tempo e carinho ao jovem bruxo e a tudo criado em volta dele. Mais do que revisitar Hogwarts é bom rever cada um daqueles personagens ou os intérpretes daqueles personagens, naquele ambiente conhecido em um outro momento, percebendo a maturidade, ponto central da obra, de uma outra maneira.
E olha que tem uma falta de jeito britânica que tenta atrapalhar tudo. Conhecidos por sua “frieza”, há muita pompa e circunstância, mas falta calor. A sorte é que a nostalgia e a fofura conseguem levar a coisa. A impressão de partida é que a ideia seria uma, mas ela não conseguiu se realizar. Emma Watson (Hermione Granger), Robbie Coltrane (Hagrid) e Matthew Lewis (Neville Longbottom) foram os escolhidos para receber a carta de Hogwarts e pareciam ter sido os designados para guiar essa jornada, que é atravessada por cartelas de apresentação mas levam ao óbvio: Daniel Radcliffe (Harry Potter) é quem fará esse papel de mestre de cerimônia. Ele conversa com o “pai” da saga Chris Columbus e tem bate-papos divertidos com Gary Oldman (Sirius Black) e Helena Bonham Carter (Bellatrix Lestrange).
Há outros personagens que conquistaram nosso coração mesmo não estando do lado certo ou sendo tão facilmente reconhecidos, caso de Draco Malfoy, vivido pelo querido Tom Felton, e Dobby, por Tobby Jones, que também estão em De Volta a Hogwarts e deixam suas marcas numa mescla de encontros, resgates e depoimentos.
Muitas das inserções não são atuais, com as da criadora do universo Rowling, aproveitadas de um depoimento dado por ela em 2019. Outros também são gravados, como os dos outros diretores, e há ausências que são muito sentidas, em qualquer formato que fosse, de nomes importantes que passaram pela série: Maggie Smith (professora McGonagall), Julie Walter (Molly Weasley), John Cleese (Nick Quase-Sem-Cabeça), Timothy Spall (Pedro Pettigrew), Emma Thompson (professora Trelawney) e outros. Demonstrando um recorte que atende, mas deixa uma sensação de que algo está faltando. Sensação que também fica no momento in memoriam, quando um “sempre” merecia bem mais atenção.
Mas há um trio que rouba a cena e o especial é mesmo deles e para eles. Entre muitas curiosidades de bastidores — tinha gente com informação privilegiada direto da autora e alguns beijos foram pavorosos — e detalhes interessantes de produção, a gente se perde mesmo nas histórias de Radcliffe, Watson e Rupert Grint (Ron Weasley). Com imagens de arquivo — aquelas que não são da Emma Roberts 😅 — podemos ver as audições, os primeiros momentos dos três juntos, como foram se desenvolvendo, como a amizade entre eles se fortaleceu ao longo dos anos, os bons e os maus momentos. Mesmo que haja uma frieza típica, há muita verdade e emoção em tudo aquilo que se vê e é difícil não se envolver.
Harry Potter é uma saga sobre o amadurecimento que foi amadurecendo junto com seus personagens e, embora tenha tropeçado ali no meio do caminho (adolescência, afinal), chegou muito dignamente ao final. É justo que se queira ver o que aconteceu 20 anos depois desse começo. De Volta a Hogwarts encontra adultos, outras pessoas, outras vidas, mas que nunca seriam essas sem aquela magia que foi compartilhada com cada um de nós de um jeito único e especial.
Agora é maratonar tudo de novo.
Um grande momento
O beijo
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