(5 Fitas, Brasil, 2020)
Se tem um estado que está representado de maneira especial nessa 24ª Mostra Tiradentes é a Bahia. Com três longas na competição principal, a Aurora, e outros tantos curtas espalhados pelas inúmeras seções do evento, ‘5 Fitas’ é um desses filmes que ressalta uma baianidade que vai além da fé, das crenças em seus rituais históricos, além do padrão atribuído a seu povo, mas que também é uma mistura desse tempero. Acima de tudo, um espírito essencialmente baiano está presente nesse curta de tratamento simples mas de resultado encharcado do seu tempero.
Os diretores Heraldo de Deus e Vilma Martins recheiam seu filme de uma gama de características sensoriais que transpiram de Salvador, tais como a ebulição em torno do sincretismo religiosos de suas festas (no caso, a mais famosa de todas, a lavagem das escadarias da Igreja do Senhor do Bonfim), a alegria irrestrita que exala de seu povo (aqui representado por dois irmãos e seu entorno) e o senso de proteção familiar que escapa inclusive as tradicionais convenções familiares e esbarra por todos.
Com uma atmosfera que remete ao menos a uma passagem de ‘Ó Paí Ó’, obra do Bando de Teatro do Olodum levada às telas por Monique Gardenberg em 2007, ‘5 Fitas’ é uma celebração da construção desses alicerces baianos por excelência, exaltando os valores e a vibração enérgica presente em tudo que o estado elabora, um amálgama muito natural que reconhecemos nas relações familiares que são preservadas por todo um povo, sua ligação desde cedo com a religiosidade e os laços que unem todos os seus filhos enquanto um só povo.
Ainda que sua demarcada construção narrativa reprise esse olhar inocente sobre o nascimento e reconhecimento da fá desde a mais tenra infância e que seu jogo se constitua em uma repetição para quem acompanhou o filme de Monique (que inclusive nos faz reencontrar o talento de Rejane Maya apresentado no longa), quem procura por aquele típico ambiente baiano que o cinema recente nos apresentou, com cheiro de dendê saindo da tela e impregnando o ambiente, Heraldo e Vilma garantem essa moldura.
Com intenções modestas e um alcance universalizado, ‘5 Fitas’ faz parte desse momento de exaltação do cinema baiano através do que é primordial às suas raízes mais naturalizadas. Passatempo que reflete o espírito de todo um estado quase em terceira dimensão, o filme é uma porta de entrada mais que agradável para acessar esse cinema tão vibrante que os soteropolitanos querem exportar atualmente, deixando um sorriso no rosto do espectador mais sisudo e uma expectativa em relação à onda que está a caminho.
Um grande momento
O desespero da avó.