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Lady Bird: Hora de Voar

(Lady Bird, EUA, 2017)
Nota  
  • Gênero: Comédia
  • Direção: Greta Gerwig
  • Roteiro: Greta Gerwig
  • Elenco: Saoirse Ronan, Laurie Metcalf, Tracy Letts, Lucas Hedges, Timothée Chalamet
  • Duração: 94 minutos

Há muito a ser dito sobre o relacionamento de mãe e filha. Esse tema, já outras vezes explorado no cinema, é a válvula motriz de Lady Bird: Hora de Voar. O filme autobiográfico de Greta Gerwig, desperta a identificação ao falar da transição de uma jovem para a vida adulta e fiscalizar na tão importante – e determinante na formação da personalidade – relação mãe/filha.

O rito de passagem aqui prefere omitir a fase de identificação e idolatria, pela qual todas as filhas passam, para se concentrar no conflito em si. Logo na primeira cena, com as duas personagens confiadas em um único e inescapável ambiente, a vontade de ser diferente de uma e a incredulidade quanto à competência da filha de outra tornam-se evidentes. A inescapabilidade do espaço e abruptamente subvertida. Ali, naquele ato, está a ruptura inevitável por que todas as mulheres passaram, passam e passarão.

Lady Bird

Como não há simplicidade em nada que envolva relações familiares, essa rejeição vem acompanhada de uma gama infinita de sentimentos contraditórios. Ao mesmo tempo em que se quer o distanciamento, busca-se a aprovação; assim como se quer a independência, cobra-se a atenção, e, em meio a tanto ódio – a palavra é forte, mas o sentimento é esse -, há um amor infinito.

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A sensação de não-pertencimento, tão comum da idade, é explicitada a todo momento, seja na externalização de uma vontade de mudar-se para o outro lado do país, quebrando os vínculos com tudo que era conhecido por sua vida até então, ou mesmo na rejeição do nome, ponto primeiro de identificação/diferenciação do ser humano.

Tudo costurado de maneira muito eficiente por Greta, que mantém a característica verborrágica e afeita à compreensão da psique humana já demonstrada em seus roteiros (Francis Ha e Mistress America, entre outros) e obviamente inspirada no cinema de Woody Allen. Em sua primeira direção solo, ela encontra a propriedade para falar de si e exorcizar os demônios de sua relação com a própria história.

Lady Bird

E há muita segurança em como a diretora recria o seu universo. O modo como enquadra a cidade de onde quis partir, o cuidado com a distribuição da tensão, a recriação sentimental dos ambientes e a segurança com que conduz os atores – aqui com a sorte de ter duas presenças, Saoirse Ronan e Laurie Metcalf, obviamente identificadas com o que representam – são coisas que nem mesmo os mais críticos poderão desprezar.

Ainda que haja excessos, pois sobras estão aqui e ali em Lady Bird: Hora de Voar, estes são superados pela força da história contada. E aqui entra novamente a identificação como um diferencial fundamental da obra. A sensibilidade de Greta e seu conhecimento de causa conversam diretamente com o público, principalmente com o público feminino que já sentiu tudo aquilo que vê, já esteve naquele mesmo lugar e, assim como ela, sobreviveu com histórias para contar.

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Cecilia Barroso

Cecilia Barroso é jornalista cultural e crítica de cinema. Mãe do Digo e da Dani, essa tricolor das Laranjeiras convive desde muito cedo com a sétima arte, e tem influências, familiares ou não, dos mais diversos gêneros e escolas. É votante internacional do Globo de Ouro e faz parte da Abraccine – Associação Brasileira de Críticos de Cinema, Critics Choice Association, OFCS – Online Film Critics Society e das Elviras – Coletivo de Mulheres Críticas de Cinema.
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