No dia 1 da Berlinale é tradição a apresentação do Júri Internacional. Na Edição 2019, a responsabilidade-über do cargo fica nas mãos da atriz francesa, Juliette Binoche, uma Routinier do festival. Aliás, a “conexão” com o festival é o argumento que o cara que faz a moderação encontra como justificativa-mór até provocar náuseas. Decerto é simpático quando alguém já teve passagem por Berlim, mas usar isso como legitimação é chato e raso.
Por isso, a presença nada espetacular e totalmente despretensiosa de Binoche teve efeito surpreendente, mas super bem-vindo. De cabelos cumpridos pretos como a noite e colocados para atrás dos ombros, Binoche chegou, viu, mandou o recado e foi certeira em suas declarações além de ter entendido a retórica berlinense de que o menos é mais.
Perguntada sobre quantos roteiros já teria rejeitado em sua carreira ela deu o exemplo do trabalho de O Pianista. “Quando encontrei Jane Campion, eu queria demais fazer o papel de protagonista em O Piano, mas ela escolheu a Holly Hunter. Quando eu a vi no filme já completo, imediatamente soube que só ela poderia fazer aquele papel. Nunca na sua vida fosse teria sido capaz em fazer aquilo”, disse ela em autorreflexão no passado.
Binoche também refletiu, com a soberania de quem já tem muitos anos na estrada, sobre a “coisa orgânica” que é fazer um filme: “Você nunca sabe o que vai ser, se vai se dar bem com o diretor, mas tem roteiros que chamam você”. Binoche também falou de Harvey Weinstein. Afirmou que, como produtor ele foi excelente, mas também mencionou que deve ser sido uma “experiência terrível para atrizes” que trabalham com ele. No geral, usou um tom conciliador.
O particular é político
Perguntada por um jornalista sobre o caráter político dos filmes da Berlinale, Binoche disse: “Antes de serem políticos, os filmes precisam ser humanos” e ainda acrescentou o “egoísmo do mundo”. “Os países querem fechar fronteiras, construir muros” e complementou avisando ser importante “pensar nas novas gerações”.
Rajendra Roy, o curador de filmes do Museu de Arte Moderna de Nova Iorque que esbanjou retórica, vestia uma camisa vermelha com os dizeres: “O futuro do filme será feminino” e, na sequência, já esbanjava credibilidade com suas colegas do júri no Instagram da Berlinale.
A atriz alemã, Sandra Huller (Toni Erdmann), quanto ao guarda-roupa extravagante andrógino poderia passar pela prima da Tilda Swinton que, com ou sem Brexit, é prata da casa. Huller, a queridinha da imprensa alemã, tinha uma camisa abóbora listrada, amarrada até o pescoço, cabelos curtíssimos pra trás como da Swinton e vários anéis de cores capazes de causar cegueira temporária. Que fique constatado: a mudança do visual, comparando com os últimos anos é, no mínimo, radical.
Perguntada como se sente no júri, ela disse: “Eu espero estar bem acordada ao ver os filmes”. Nas Artes Visuais também é assim: Tem gente que é feliz e nem sabe. Pois é.
O diretor chileno e radicado em Berlim, Sebastián Lelio também é um Routinier do festival, já que os alemães têm sempre a ânsia em justificar a legitimidade, até mesmo para justificar a presença de um diretor de cinema. Leilo esteve na Berlinale em 2012, com Gloria, e em 2017, com Uma Mulher Fantástica. Logo após a coletiva, Lelio falou exclusivamente com o meu canal, AboutCinema.
O perguntei se, para ele, havia um aspecto especial em ser membro do júri mais político do mundo num momento politicamente tão convulsivo na América Latina. A resposta você vê aqui:
O júri da última edição sob o comando de Dieter Kosslick não é um super hiper, mas tem nele pessoas apaixonadas e feras no quesito Sétima Arte.
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